Marcelo Senise alerta sobre os perigos do uso da inteligência artificial para forjar vídeos e manipular a opinião pública, ameaçando a democracia brasileira | Foto: reprodução
20 de maio de 2025 – Imagine acordar amanhã e ver um vídeo do presidente da República declarando guerra a outro país. A imprensa corre para confirmar. As redes entram em colapso. O mercado despenca. O mundo segura a respiração. Horas depois, descobre-se: era tudo falso. O vídeo nunca aconteceu. A fala foi forjada. A guerra, imaginária — mas o dano, irreversível.
Não é ficção científica. É o nosso presente.
Nos últimos dias, circulou no Brasil um vídeo em que o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, descreveu o presidente Lula como “um desastre total”. As imagens são reais, a voz é convincente, o vídeo é tecnicamente perfeito — mas é uma mentira construída por inteligência artificial. Uma fraude. Uma peça de desinformação que enganou milhares de brasileiros. E esse é o verdadeiro desastre.
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O que está diante de nós é mais do que uma nova onda de fake news. É o início de uma era onde a própria realidade se torna maleável. Onde não há mais garantias de que o que vemos ou ouvimos corresponde, de fato, ao que aconteceu. Entramos na era da pós-verdade sintética, e, se não reagirmos agora, ela vai nos engolir vivos.
O perigo não se limita a um vídeo ou personagem político. Hoje é Lula. Amanhã será outro. Nenhuma liderança, instituição ou cidadão está imune. O que está em risco não é a imagem de um político, mas a base da nossa convivência: a confiança nos fatos e na realidade.
Mais grave: o maior aliado desse colapso é o fanatismo. Enquanto estivermos presos às trincheiras ideológicas, discutindo quem “ganha” com a mentira, estaremos alimentando exatamente aquilo que ameaça a democracia. A inteligência artificial não tem vontade própria — mas quem a espalha sabe como explorar nossas fragilidades.
Precisamos de um pacto. E não se trata de esquerda ou direita — é um pacto pela sobrevivência democrática. Um acordo mínimo para proteger o Brasil desse veneno que se espalha sem distinção de partido, religião ou classe social. Um veneno que pode implodir a democracia se não formos capazes de reagir.
O Congresso precisa agir com urgência. O Judiciário deve se posicionar com firmeza. O Executivo precisa liderar com responsabilidade. A imprensa deve redobrar a vigilância. As plataformas digitais precisam ser responsabilizadas. E a sociedade civil — todos nós — precisa acordar.
Regular o uso de inteligência artificial não é censura. É proteção. É garantir que a verdade continue sendo um bem público. É assegurar que o debate político, a escolha do eleitor, as decisões de Estado e o senso de realidade não sejam sequestrados por simulações.
Ainda há tempo. Mas só se abrirmos mão da polarização que nos cega. A verdade não pode ter cor partidária. A integridade dos fatos não pode ser tratada como bandeira de campanha. Ou enfrentamos isso juntos — ou cairemos todos, um a um, dentro de uma mentira impossível de desfazer.
O futuro da democracia brasileira depende da nossa coragem de agir. Sem ego, sem projeto político, sem ilusão. Só com a verdade — e com a urgência que ela exige.
Marcelo Senise – Presidente do IRIA – Instituto Brasileiro para a Regulamentação da Inteligência Artificial, Sócio Fundador do Social Play e CEO da CONECT IA, Sociólogo e Marqueteiro, atua há 36 anos na área política e eleitoral, especialista em comportamento humano, e em informação e contrainformação, precursor do sistema de análise em sistemas emergentes e Inteligência Artificial. Twitter: @SeniseBSB / Instagram: @marcelosenise
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