

Organização criminosa fraudava concursos públicos e ocultava pagamentos com imóveis, veículos e “laranjas”, apontam investigações | Foto: Juan Silva e Dhara Pereira/G1
11 de outubro de 2025 — Uma operação da Polícia Federal desvendou um dos maiores esquemas de fraude em concursos públicos já registrados no país. Conhecido como “Máfia dos Concursos”, o grupo agia de forma altamente organizada, com estrutura familiar, e chegou a cobrar até R$ 500 mil por vaga em certames de diferentes órgãos públicos.
A quadrilha, baseada em Patos (PB), utilizava tecnologia de ponta para burlar sistemas de segurança, incluindo pontos eletrônicos implantados cirurgicamente, comunicação criptografada e acesso antecipado aos gabaritos das provas. O esquema operava nacionalmente, com ramificações em diversos estados.
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O núcleo do grupo seria composto por membros da família Limeira, tendo à frente Wanderlan Limeira de Sousa, ex-policial militar expulso da corporação em 2021. Segundo a PF, ele coordenava a negociação com os candidatos, distribuía gabaritos e administrava a logística das fraudes.
Entre os demais investigados estão Valmir Limeira de Sousa, Antônio Limeira das Neves, Geórgia de Oliveira Neves e Larissa de Oliveira Neves, além de colaboradores externos, como Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior, Thyago José de Andrade, Laís Giselly Nunes de Araújo e Luiz Paulo Silva dos Santos, apontado como peça-chave em mais de 60 concursos fraudulentos.
A quadrilha chegou a usar dublês — pessoas treinadas para realizar as provas no lugar dos candidatos — e dispositivos auditivos implantados para comunicação durante os exames, o que possibilitava aprovações garantidas.
As investigações indicam que o grupo cobrava valores entre R$ 100 mil e R$ 500 mil, dependendo do cargo e da concorrência. Os pagamentos eram feitos em dinheiro, ouro, veículos e até procedimentos odontológicos.
A lavagem de dinheiro era feita por meio da compra e venda de imóveis, uso de “laranjas” e movimentações financeiras suspeitas. Um relatório do COAF apontou que Geórgia Neves depositou R$ 419 mil em espécie, apesar de estar sem emprego formal desde 1998.
A clínica odontológica de Ariosvaldo Lucena, em Natal (RN), também é suspeita de ter servido de fachada para movimentar os recursos obtidos com as fraudes.
Entre os certames suspeitos estão os da Polícia Federal, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, UFPB, Polícias Civil e Militar e o Concurso Nacional Unificado (CNU).
No CNU de 2024, ao menos 10 candidatos teriam sido beneficiados, com gabaritos idênticos — inclusive nos erros —, o que levou a PF a afirmar que a chance de coincidência era tão improvável quanto vencer 19 vezes seguidas a Mega-Sena.
A operação Última Fase, deflagrada em 2 de outubro de 2025, resultou em prisões preventivas, buscas e apreensões e impedimento da posse dos aprovados fraudulentamente.
O juiz Manuel Maia de Vasconcelos Neto, responsável pelo caso, destacou que o grupo chegou a contratar “especialistas em diferentes áreas do conhecimento” para garantir o desempenho dos candidatos.
A PF ainda apura o envolvimento de servidores públicos e profissionais da saúde, suspeitos de auxiliar na implantação dos dispositivos auditivos usados nas fraudes.
As defesas dos acusados negam as acusações e afirmam que ainda não houve denúncia formal. Wanderlan Limeira e familiares dizem estar colaborando com a Justiça. Já Thyago de Andrade e Laís Giselly alegam inocência e afirmam que suas aprovações decorreram de estudo e mérito.
A Polícia Federal continua analisando o material apreendido, incluindo áudios, movimentações bancárias e comunicações codificadas, para identificar novos envolvidos e dimensionar o impacto total do esquema.
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