Investigação da PF aponta uso ilegal da Abin por núcleo ligado a Bolsonaro | Foto: Renan Olaz/CMRJ
19 de junho de 2025 — A Polícia Federal concluiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro, integraram uma organização criminosa que usou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para realizar ações clandestinas de espionagem contra opositores políticos.
A conclusão consta no relatório final do caso “Abin Paralela”, encerrado nesta semana. No documento, a PF indicia cerca de 30 investigados, entre eles Carlos Bolsonaro. O sigilo do material foi retirado nesta quarta-feira pelo relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Alexandre de Moraes.
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Jair Bolsonaro não foi formalmente indiciado no relatório da PF porque já responde em outra ação penal relacionada à trama golpista em andamento no STF. Ainda assim, os investigadores apontam que ele foi o principal beneficiário das ações ilegais realizadas pela Abin durante sua gestão.
“Jair Messias Bolsonaro figura como o principal destinatário do produto das ações clandestinas e da instrumentalização da Abin”, destaca o relatório.
A PF afirma que foi comprovado o uso da Abin para espionar ilegalmente autoridades, ex-parlamentares e jornalistas, entre eles Alexandre de Moraes, Jean Wyllys, Rodrigo Maia, Joice Hasselmann, João Doria, Leandro Demori e Mônica Bergamo.
Além da espionagem, o relatório revela que a estrutura da Abin também foi utilizada para propagar desinformação com o objetivo de desacreditar o sistema eleitoral e influenciar o resultado das eleições de 2022.
As ações ocorreram sob a gestão do ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem, que também foi indiciado, com uso indevido de servidores e do software de monitoramento FirstMile.
O relatório da PF também aponta indícios de obstrução das investigações por parte da atual cúpula da Abin, liderada pelo diretor-geral Luiz Fernando Correa e o corregedor José Fernando Moraes Chuy, ambos indiciados.
De acordo com o documento, a atual gestão teria atuado para proteger os envolvidos na gestão anterior e dificultar o acesso às provas.
“Este núcleo atuou para dificultar as investigações sobre a ORCRIM da gestão anterior (…), com potencial manipulação de informações e procedimentos internos”, detalha o relatório.
Com a entrega do relatório, caberá agora à Procuradoria-Geral da República (PGR) decidir se apresenta uma nova denúncia com base nas investigações ou se os fatos serão anexados às ações penais já em andamento sobre a trama golpista.
Após ser indiciado, Carlos Bolsonaro foi às redes sociais criticar a decisão e sugerir perseguição política:
“Alguém tinha alguma dúvida que a PF do Lula faria isso comigo? Justificativa? Creio que os senhores já sabem: eleições em 2026? Acho que não! É só coincidência!”, publicou.
A Agência Brasil entrou em contato com a Abin e aguarda retorno. O espaço permanece aberto para manifestações.
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