O empreendedor tem aquela super ideia, coloca todas as suas fichas no negócio promissor, monta um time poderoso, começa a ter bons resultados, ganha exposição na mídia e, finalmente, consegue atrair a atenção dos investidores. Depois de muita conversa e de um longo due dilligence vem a tão sonhada notícia: vamos investir alguns milhões na sua startup.
Bingo! Era o que faltava para levar o sonho de crescimento da empresa para um novo patamar. Mas muita calma nesta hora. Se tem uma coisa pior que a falta de capital é ter a conta recheada e não saber como administrar o recurso para garantir a sustentabilidade do negócio. Não são poucos os casos de startups que receberam investimentos polpudos e acabaram morrendo na praia porque gastaram todo dinheiro como se não houvesse amanhã.
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No ano passado, o ecossistema brasileiro de startups recebeu US$ 9,4 bilhões em investimentos, 2,5 vezes mais do que em 2020, segundo o relatório Inside Venture Capital, produzido pela Distrito. Ao todo, foram fechadas 779 transações, sendo que 10 startups se transformaram em unicórnios, elevando para 21 o número de empresas brasileiras avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.
É verdade que o cenário do venture capital no Brasil vem se mostrando muito aquecido, bem como outras fontes, como o corporate venture, o investimento-anjo e o venture debt, mas já é possível sentir também a dura realidade de uma crise que se avizinha, levando até mesmo vários unicórnios a promover demissões desde o início deste ano.
Assim que uma empresa recebe um aporte, o empreendedor assume uma série de metas que, se alcançadas e cumpridas, o levarão a uma escalada decisiva para o sucesso do plano de negócios. Porém, se por outro lado o capital for mal administrado, o que deveria ser vital para alcançar os números esperados pode se tornar mortal.
Então, qual caminho seguir para esta nova fase? Qual a melhor forma de otimizar os recursos?
Uma pesquisa feita pela Go2Mob com pequenos e médios empresários indicou que a maior preocupação no dia a dia do negócio está justamente nos ‘processos’, com menção de 46% dos entrevistados, e ‘funcionários’, com 41% de citações. Apesar de 76% terem dito que estão otimistas com o crescimento de suas empresas, apenas 28% afirmaram que se sentem 100% preparados para crescer.
“Para não se sentir perdido, sem saber por onde começar, a saída é buscar uma mentoria especializada, com olhar voltado a ajudar a liderança da startup na resolução dos problemas a curto, médio e longo prazo. A maioria das empresas falham, justamente, não por não ter uma boa ideia, mas sim por falha de execução”, pontua bem meu sócio Alexandre Ribeiro.
“Quando a empresa é contemplada com um aporte, ela recebe uma aposta, ou seja, um investidor acredita nela. E, para cumprir com as expectativas, se ela não tiver processo, governança, plano tático e fluxo, pode perder uma grande oportunidade e queimar o investimento na largada”, alerta.
Ele tem toda razão. Além de se preparar para o crescimento, é necessário planejamento para crescer de forma sustentável. Trago aqui 7 pontos de atenção que todo empreendedor deve acompanhar de perto depois de receber uma injeção de capital. Vamos a eles:
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1. Estratégia e plano tático caminham juntos
– O objetivo do negócio e a direção para onde ir precisa estar bem clara para a empresa como um todo; e não apenas aos fundadores e sócios. Apesar de ser um ponto inicial para muita gente, há muita falta de direcionamento da companhia (missão, visão, valores). Por isso, para dar o primeiro passo é imprescindível ter claro os focos estratégicos.
– O plano tático, da mesma forma, deve estar em sintonia com a estratégia. Assim que as iniciativas e métricas estiverem definidas e relacionadas à visão estratégica o empreendedor terá um cenário mais claro de como e onde investir o capital.
2. Cultura da empresa alinhada
– A cultura da empresa precisa estar estabelecida e viva entre todos os colaboradores. Com a cultura bem definida e alinhada com a estratégia de crescimento, a próxima etapa é definir as prioridades e principais pontos de mudança da startup.
3. Planejamento de cenários
– A preparação para o futuro consiste em planejar diferentes cenários: definição de objetivo, revisão e criação de processos, troca de sistema, mudanças de modelo de gestão e, até mesmo, de novos serviços.
– É possível seguir por um tempo com os modelos e ferramentas antigas, mas é preciso ter um horizonte de que não dá para fazer isso para sempre. Portanto, uma atenção especial às métricas e scores também é indispensável.
4. Sucessão
– Desenvolver um planejamento sucessório bem elaborado e pensado com cuidado para facilitar a transição de uma liderança para outra é fundamental. O importante é garantir a sobrevivência do negócio sem a dependência do fundador
5. Time
– É imprescindível prezar pelo time, valorizar as conquistas. O olhar atento traz resultados até na composição da equipe. Por isso, quando se está compondo um time muito enxuto, a complementaridade entre os perfis é muito importante. Em uma startup, você não pode ter três visionários e ninguém focado em execução. Também não dá para ter um talento focado em 13 tarefas e não ter visão.
6. Pensamento de recursos da empresa
– Toda essa mudança na gestão da startup é inevitável para se conseguir bons resultados e é importante que a empresa seja organizada desde o início. Quando entra um fundo de investimento, é necessário ter, acima de tudo, governança.
– Documentar processos, com foco também nos controles internos, aderência às leis e regulamentos eleva o grau de profissionalismo da empresa. Por isso, é essencial fazer uma revisão detalhada na documentação, políticas e workflow.
7. Maturidade de processo
– A visão de negócios clara e este plano estruturado permite um ganho de maturidade dos processos, criando as condições para escalar o back-office de maneira efetiva e eficiente.
O principal ponto de todo processo de gestão depois do aporte é trazer metodologia, boas práticas do mercado e olhar atento e focado para resolução do problema do cliente, a velha “que dor meu negócio veio curar”.
A questão não é “engessar” a startup, mas organizá-la, com planejamento e foco. Um caminho muito válido é analisar o histórico de como empresas bem sucedidas lidam com desafios e transferir esta experiência para as empresas emergentes. Nada como aprender com quem já passou por desafios semelhantes para prevenir possíveis crises.
Desde que bem gerido, dinheiro em caixa não faz mal a ninguém, não é mesmo? Tampouco prudência e canja de galinha. Então, nada de se deslumbrar. Agora que já atraiu investidores, lembre-se que suas responsabilidades e metas só tendem a crescer.
Mãos à obra e boa sorte!
Juliana Shimura é sócia da Manacá Partners, consultoria de negócios focada em excelência operacional.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Portal Terra da Luz. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, ou um outro artigo com suas ideias, envie sua sugestão de texto para portalterradaluz@gmail.com.
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