A inflação corrói o poder de compra e dificulta a quitação das dívidas em atraso. Economista sugere que empresas ofereçam descontos | Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
O Indicador da Serasa Experian, de abril de 2021, mostra um aumento progressivo da inadimplência no Brasil. Em janeiro deste ano, 58,8% das dívidas contraídas pelos consumidores foram pagas em até 60 dias após a negativação do crédito. Em fevereiro, o Índice de Recuperação do Crédito atingiu 59,3%, o melhor do primeiro semestre até agora. A partir de março, a pesquisa mostra um agravamento da situação. O percentual de recuperação das dívidas caiu para 56% e, em abril, dado mais recente, o índice ficou praticamente estável, 56,4% dos brasileiros quitaram as contas em até 60 dias.
No segmento de Utilities, que abrange as contas de água e energia, itens essenciais, a recuperação é maior (67,4%). Na sequência estão Bancos e Cartões, com 62,6% de dívidas quitadas no período. O economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, avalia que o fato de os percentuais de recuperação das dívidas estarem menores nos últimos dois meses pode estar relacionado com a aceleração da inflação no período, o que acaba corroendo o poder de compra da população e dificultando a quitação das dívidas em atraso.
Ele sugere que os credores proporcionem descontos e facilidades de pagamentos aos clientes em débito, a fim de conseguirem aumentar os seus percentuais de recuperação neste momento de inflação acima do previsto.
O indicador revelou um padrão: as dívidas mais recentes tendem a ser mais recuperadas, enquanto aquelas com mais tempo de existência têm o percentual de quitação mais baixo. Considerando compromissos que estavam vencidos há 30 dias, 74,3% foram quitados; de 30 a 60 dias, 42,4%; de 60 a 90 dias; 31,0%; de 90 a 180 dias; 28,3% entre 180 dias e o primeiro ano e 16,3% entre um e mais anos.
“O esquecimento é muito comum no caso de dívidas mais antigas. Muitas vezes quando a pessoa recebe a notificação de inadimplência, se lembra e realiza o pagamento. Além disso, há também a questão das multas e encargos moratórios que vão encarecendo as dívidas vencidas com o passar do tempo. Por fim, a priorização das contas a pagar também é um fator já que, devido ao atual cenário econômico, os consumidores com dificuldades financeiras acabam escolhendo qual será paga e qual será postergada para o próximo mês”, explicou Rabi sobre os motivos desse movimento.
A Serasa Experian avalia que a pandemia de covid-19 e os desafios econômicos impostos no período fizeram com que, na média de 2020, 57,2% dos registros de negativação fossem recuperados no horizonte de 60 dias após a comunicação do credor, porcentagem menor que 2019, quando o índice ficou em 59,2%.
O indicador mostrou ainda quais valores são quitados com mais facilidade: em 2020, aquelas dívidas acima de R$ 10 mil tiveram recuperação de 70,4%, enquanto o intervalo de R$ 1 mil a R$ 2 mil teve retorno de 53,4% das contas.
“O aumento do desemprego e a redução da renda das pessoas fizeram com que muitos demorassem mais para pagar as contas atrasadas. Pelos dados, observamos que a maior parte priorizou o pagamento de dívidas mais caras, que costumam estar relacionadas a imóveis ou veículos. Elas geralmente têm o bem como garantia, ou seja, para não perder a aquisição os consumidores ficam inclinados a honrar o compromisso financeiro”, disse Luiz Rabi.
Com informações da Agência Brasil
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