A Marinha divulgou, nesta segunda-feira (09/08), o resultado do concurso realizado para selecionar o projeto arquitetônico do Museu Marítimo do Brasil. A proposta vencedora foi elaborada por uma equipe de São Paulo, liderada pelo arquiteto Rodrigo Quintella Messina.
O Museu Marítimo do Brasil será construído no Espaço Cultural da Marinha, localizado na zona portuária do Rio de Janeiro, próximo à Praça XV. Ele será voltado para promover o conhecimento sobre a história marítima que está diretamente ligada à formação do país. A estrutura contará ainda com um auditório, um restaurante e uma cafeteria.
Os detalhes do concurso para a definição do projeto foram anunciados em junho. O processo foi conduzido em parceria com o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). O vencedor foi anunciado de forma virtual, por meio de uma live realizada às 17h, na qual foi lida a ata com o resultado.
“O projeto apresenta uma composição formal simples e, ao mesmo tempo, potente. Ao longo do pier, o edifício que contém exposições e acervos é horizontal, permitindo a visada para a baía. Em terra, o edifício de acesso e atividades educativas coloca-se atento às proporções dos edifícios do entorno”, diz o documento. A ata também registra recomendações do júri para a fase de aperfeiçoamento do projeto.
Quando anunciou o concurso, a Marinha afirmou que o museu tinha, como uma de suas finalidades conceituais, o respeito ao mar e aos rios como instâncias culturais, simbólicas e míticas, na convergência de uma sociedade marítima brasileira que carrega diversas origens. Também informou que a inovação das propostas apresentadas seria levada em conta. O projeto escolhido deveria reafirmar a excelência da arquitetura contemporânea brasileira.
Ao todo, 110 trabalhos foram recebidos. A avaliação foi feita por cinco jurados. “Temos nesse júri um corpo muito completo como está nos estatutos de concursos de projeto no Brasil. Temos indicações do próprio IAB-RJ, que são tiradas de um corpo de jurados eleito a cada três anos, e do promotor do concurso, nesse caso a Marinha, que indica dois nomes”, explicou Igor de Vetyemy, presidente do IAB-RJ.
A organização do concurso contou com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A equipe vencedora receberá R$50 mil. Outros dois trabalhos foram premiados. Em segundo lugar, ficou a proposta apresentada por uma equipe de Brasília, sob a coordenação do arquiteto Nonato Veloso. Ela receberá R$30 mil. Já a terceira posição, que fará jus a uma quantia de R$20 mil, foi ocupada por outro projeto enviado de São Paulo, este liderado por Álvaro Puntoni.
Mais três trabalhos receberam menção honrosa. Eles foram apresentados por equipes das cidades de Porto Alegre, São Paulo e Vitória da Conquista (BA). Um livro reunindo todas as seis propostas deverá ser produzido pela Marinha.
Para Vetyemy, o Museu Marítimo do Brasil está sendo pensado sob novos parâmetros éticos, que englobam a participação popular e a criação de espaços públicos de qualidade. “É bom ver que o instrumento mais democrático para construir nossas cidades, que é o concurso público de projetos, cumpre tão bem sua função. Cento e dez equipes enormes trabalharam, questionando a maneira como a arquitetura é feita até hoje, pensando como evoluir, pensando como propor questões tão importantes como, nesse caso específico, a reconexão da cidade com o mar”, avaliou.
A proposta da Marinha é que o museu ofereça uma experiência que realce aspectos relevantes da história e da formação da vocação marítima nacional. A região onde ele será construído abrigava, no século 19, a Doca da Alfândega. Com quatorze armazéns, ela podia receber inúmeras embarcações, embora não tivesse profundidade para o encostamento de navios de grande porte.
O Museu Marítimo do Brasil será mais um equipamento cultural construído dentro do processo de revitalização da zona portuária do Rio de Janeiro. Ficará próximo ao Museu de Arte do Rio (MAR), inaugurado em 2013, e ao Museu do Amanhã, que abriu as portas em 2015. Sua localização também permite o diálogo com outros espaços do complexo cultural existente na região central da capital fluminense, como o Museu Histórico Nacional, o Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) e a Casa França-Brasil.
“O projeto vencedor precisava não só atender às necessidades apontadas, mas integrar de maneira harmônica o local onde será construído”, afirmou o vice-almirante José Carlos Mathias, que está à frente da diretoria do patrimônio histórico e documentação da Marinha.
A revitalização da zona portuária é uma demanda histórica de alguns setores da sociedade carioca, mas foi impulsionada no processo de preparação da cidade para receber os Jogos Olímpicos de 2016. Um dos principais marcos foi a implosão da Perimetral, um extenso viaduto construído em etapas entre as décadas de 1950 e de 1970, alterando significativamente a paisagem urbana.
A demolição contribuiu para a requalificação de espaços urbanos. O projeto de revitalização, no entanto, previa o desenvolvimento da ocupação residencial na zona portuária, de forma a evitar que ela termine novamente abandonada, mas os tímidos avanços nessa direção têm atraído críticas. Há cerca de dois meses, durante o lançamento de um novo empreendimento habitacional na região, o prefeito Eduardo Paes considerou que as dificuldades se devem a questões econômicas.
“A economia brasileira parou, a economia do Rio parou. Não tivemos empreendimentos habitacionais novos. Agora, a economia parece que reacendeu, o Rio volta, se Deus quiser, a crescer e a gente vai tendo lançamentos imobiliários. Agora é uma solução de mercado. A infraestrutura já foi feita. É VLT [Veículo Leve sobre Trilhos] passando na porta, ruas urbanizadas, o Boulevard Olímpico, nove quilômetros de túnel. O que precisa é o setor privado fazer lançamentos”, disse.
Leia também | Corpo de Bombeiros do Ceará terá museu