O procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou a abertura de processo para investigar o suposto crime de apologia ao nazismo que teria sido praticado pelo deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) e pelo podcaster e influencer Bruno Monteiro Aiub, conhecido como Monark durante apresentação do “Flow Podcast”, que tinha também a participação da deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP).
Ao vivo, Monark afirmou que deveria haver um “partido nazista reconhecido pela lei” e defendeu que “se um cara quisesse ser antijudeu, eu acho que ele tinha o direito de ser”.
O deputado Kim Kataguiri também será investigado. Durante o programa, ao ser questionado por Tabata, Kim afirmou considerar que a Alemanha errou ao ter criminalizado o partido nazista.
A decisão do procurador-geral foi anunciada nessa terça-feira (8/2) e foi motivada por representações recebidas pelo Ministério Público Federal a respeito do episódio do programa em que Monark defende a “legalidade de um partido nazista no Brasil”.
Segundo a PGR, o caso será analisado pela assessoria criminal de Augusto Aras porque Kim Kataguiri, por ser deputado federal, tem foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF).
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As falas do podcaster Monark e do deputado federal Kim Kataguiri provocaram fortes reações nas redes sociais. O coletivo Judeus e Judias pela Democracia de São Paulo entrou com um pedido para que a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), o Ministério Público Estadual de São Paulo (MPSP) e a Procuradoria-Geral da República investiguem se o apresentador Monark também cometeu os crimes de incitação à violência, injúria racial e intolerância religiosa, além da apologia ao nazismo.
A Confederação Israelita do Brasil (Conib) divulgou nota em que “condena de forma veemente a defesa da existência de um partido nazista no Brasil e o ‘direito de ser antijudeu’. O nazismo prega a supremacia racial e o extermínio de grupos que considera ‘inferiores’. Sob a liderança de Hitler, o nazismo comandou uma máquina de extermínio no coração da Europa que matou 6 milhões de judeus inocentes e também homossexuais, ciganos e outras minorias. O discurso de ódio e a defesa do discurso de ódio trazem consequências terríveis para a humanidade, e o nazismo é sua maior evidência histórica”.
A Federação Israelita do Estado de São Paulo também expressou seu repúdio às falas do podcaster dizendo que reitera “nosso compromisso em combater ideias que coloquem em risco qualquer minoria. Manifestações como essa evidenciam o grau de descomprometimento do youtuber com a democracia e os direitos humanos”.
Após as reações, Monark gravou um vídeo pedindo desculpas e afirmou que estava bêbado quando defendeu existência de partido nazista. Disse ainda que a fala dele foi tirada de contexto.
As falas também tiveram consequências econômicas para o Flow Podcast, considerado um dos maiores do Brasil. O Sleeping Giants Brasil, perfil no Twitter que busca a tirada de financiamento de meios e programas que propagam discurso de ódio, informou que o Flow Podcast já perdeu seis patrocinadores.
Os Estúdios Flow divulgaram uma nota afirmando que o apresentador Monark foi desligado da empresa e que o episódio será retirado do ar. A nota, porém não deu detalhes sobre o desligamento, uma vez que Monark é sócio-administrador da empresa.
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O deputado federal Kim Kataguiri divulgou nota em que critica o procurador-geral Augusto Aras e afirmou que ele faz “vista grossa para crimes que realmente aconteceram”.
Segundo o deputado, o Aras se omite em casos que envolvem o presidente Jair Bolsonaro e age “rapidamente e com inquestionável cunho político para perseguir minha conduta de oposição ao governo”
“É aterrador que o PGR, que sempre faz vista grossa para crimes que realmente aconteceram tenha agido tão rápido. Quando há claros indícios de crime cometido pelo presidente da República, Augusto Aras nada faz. Porém, diante de uma conduta claramente de mero debate em um podcast, Aras age rapidamente – e com inquestionável cunho político para perseguir minha conduta de oposição ao Governo Bolsonaro. É um contrassenso”, declarou.
Kataguiri afirmou que vai colaborar com as investigações. “Meu discurso foi absolutamente anti-nazista. Não há nada de criminoso em defender que o nazismo seja repudiado com veemência no campo ideológico para que as atrocidades que conhecemos nunca sejam cometidas novamente. Ao contrário das pessoas privilegiadas pela inércia de Aras, nada tenho a esconder”, escreveu.
No material divulgado, a PGR diz que Augusto Aras não pode “se posicionar sobre o caso específico”, mas “reitera posição contra o discurso de ódio já externada em mais de uma oportunidade”.
“Todo discurso de ódio deve ser rejeitado com a deflagração permanente de campanhas de respeito a diversidade como fazemos no Ministério Público brasileiro para que a tolerância gere paz e afaste a violência do cotidiano”, declarou Aras na cerimônia de abertura do ano judiciário, há uma semana – a fala foi reforçada pela PGR nesta terça.
Com informações do G1
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