Originário da América Central, o cacau se adaptou bem às terras brasileiras e de outros países pelo mundo. Considerado o “fruto de ouro, devido à alta lucratividade, também chamou a atenção de produtores cearenses. Hoje, a produção de cacau é uma realidade e apresenta bons resultados no Estado. O plantio, iniciado no Perímetro Irrigado do Tabuleiro de Russas, no Vale do Rio Jaguaribe, chega a produzir quase dez vez mais amêndoas por hectare do que a região que tem as maiores plantações do país.
O grande potencial para a produção comercial do cacau, no Ceará, está nas áreas irrigadas, que aumentam a cada ano com a gestão dos recursos hídricos feita por meio de canais de transposição, como o Cinturão das Águas, e o controle da dispersão do volume que fica armazenado nos açudes para manter rios e riachos perenizados. O clima semiárido também favorece. O ar mais seco impede, naturalmente, a proliferação de fungos, como a vassoura-de-bruxa, doença que é responsável por sérios problemas na produção de outros estados brasileiros, como a Bahia, maior produtor de cacau do Brasil.
Segundo dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Bahia possui uma área plantada de 480 mil hectares e colheita de 122 mil toneladas do fruto. Com 174 mil hectares e 116 mil toneladas produzidas, o Pará é, hoje, o 2º maior produtor nacional.
No Ceará, o plantio de cacau começou há pouco mais de uma década e ainda nem aparece no último ranking nacional de produção do IBGE (2019). Mas as pesquisas apontam para um mercado promissor.
As primeiras mudas de cacau foram plantadas, em 2010, no Perímetro Irrigado do Tabuleiro de Russas, entre as cidades de Limoeiro do Norte e Russas. A iniciativa partiu da União dos Agronegócios no Vale do Jaguaribe (Univale), com apoio da Comissão Executiva de Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Logo na 1ª safra, foram três mil quilos de amêndoas por hectare, superando em muito a média de 350 quilos por hectare registrado no Sul da Bahia, principal região produtora do Brasil.
Logo nos primeiros anos de plantio, a sequência de anos de seca quase impediu a continuidade do projeto. “Em 2011, tínhamos o Castanhão cheio. Aguentou três anos e quase secou. Hoje, o açude tem cerca de 15% e estamos conseguindo manter a irrigação porque há um cuidado muito maior com a água”, considera Sérgio Baima, analista de Atração de Investimento e Mercado da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet).
O analista da Sedet frisa que a insolação (quantidade de horas de sol durante o dia), no Ceará, melhora a produção e faz com que o cacau seja precoce. “A precocidade é uma das coisas básicas para a produção. Não é bom ter que esperar por cinco anos para o cacau desenvolver. Aqui, ele se desenvolve em três anos. Entre a saída da flor e a produção, normalmente, em outros estados, chega a 200 dias. No Ceará, em 140 dias há o processo. É realmente mais precoce, o que faz com que o Ceará possa ter um grande potencial”, avalia.
Atualmente, o Estado conta com 25 hectares plantados. “O Governo do Ceará fez um projeto de incentivo à introdução de cacau, através de produtores privados que aceitaram fazer o investimento. O Estado entrou com a parte tecnológica, trazendo técnicos da Ceplac para dar suporte e logo começaram a produzir cacau”, lembra Baima.
O cacau é a matéria-prima para a fabricação do chocolate. O incentivo da produção no Estado, contribui para a melhoria da renda dos produtores. “O cacau tem importância adicional por ser um produto industrial e ter alto valor agregado. Nós queremos melhorar ainda mais essa produção”, pontua Baima. (Veja o vídeo ao fim da reportagem)
O Brasil, que já liderou a exportação de cacau, tem hoje uma área colhida de cerca de 707 mil hectares plantados do fruto e produção estimada em 255 mil toneladas. Atualmente, ocupa a 7ª colocação no mercado mundial cacaueiro.
O engenheiro agrônomo Diógenes Abrantes é um dos responsáveis pelo experimento da produção de cacau no Ceará, que surgiu como uma cultura alternativa para os agricultores do Tabuleiro de Russas.
Hoje, Diógenes avalia que o cacau tem grande potencial de crescimento no Estado: “É uma imensa oportunidade, mas para isso precisamos usar de tecnologia, como irrigação, uso da fertilização, da adubação e técnicas de poda. Temos uma grande vantagem por a umidade relativa em nossa região ser muito baixa e, principalmente, por não termos problemas de doenças fúngicas, como uma das mais conhecidas que é a vassoura-de-bruxa. Aqui ela ainda não apareceu”.
Para uma boa produção, os cacaueiros precisam de sombreamento e barreira para os fortes ventos. O que poderia ser uma dificuldade é, na verdade, oportunidade de mais negócios, uma vez que os produtores podem aproveitar o espaço para o plantio de banana, coco e cajarana, por exemplo. A técnica consorciada é a adotada na Fazenda Frutacor, em Russas, onde estão plantados, atualmente, três hectares de cacau.
Hoje, a rentabilidade do cacau é de R$ 1 mil por hectare. “Isso, se o interesse for de processamento apenas da amêndoa. Se fizer a venda da poupa, o ganho vai para R$ 1,3 mil. E caso seja uma produção de agricultura familiar, onde o próprio agricultor executa a mão de obra, essa percentagem aumenta para R$ 1,5 mil livres, por hectare, a partir do 3º ano”, afirma o agrônomo.
Ainda conforme Diógenes, o Estado do Ceará já possui o know-how necessário para uma boa atuação dos agricultores. “A implantação dos cacaueiros no Ceará foi possível pela parceria entre o Governo do Estado e a iniciativa privada. O Governo incentivou com consultorias, através de projetos da Adece (Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará), e custeando a vinda de especialistas ao Ceará. Hoje, a Sedet mantém um consultor do cacau na região”, explica, acrescentando que outras regiões já iniciaram o processo de plantação, como a do Acaraú.
O agricultor Kerginaldo de Freitas está empregado há 13 anos na Fazenda Frutacor. Ele acompanhou o processo de produção desde o início e, hoje, é responsável por manter a plantação livre de pragas e com água suficiente. Apaixonado pelo que faz, Kerginaldo agradece ao que aprendeu sobre a cultura do cacau por tudo o que já conquistou. “Vale muito a pena. Aqui, eu ganho o pão de cada dia e consigo minhas coisas. Já comprei um carro, minha casa e tenho uma moto para vir trabalhar. Só assim eu consegui ter minhas coisas”, comemora.
Assim como Kerginaldo, o patrão também comemora a rentabilidade do cacau. Tanto que o engenheiro agrônomo Diógenes Abrantes decidiu ampliar os negócios. Além da plantação, ele investe na produção de chocolate. Após estudar e constatar a lucratividade do principal produto do cacau, ele decidiu, há menos de um ano, abrir a própria fábrica e contar com a força de trabalho de moradores de Limoeiro, onde instalou a Cacau do Ceará.
“Por enquanto, estamos com cinco produtos: o pó de cacau, o Nibs de 80 gramas e o de 100 gramas, e dois tipos diferentes de chocolate que são os de 46% e 70%”, conta.
A produção, de acordo com o empreendedor, tem bastante aceitação. “Já estamos procurando um novo local e comprando maquinário para multiplicar por mais ou menos oito vezes o trabalho feito hoje na fábrica. É um negócio rentável. De chocolate todo mundo gosta”, conclui Diógenes.
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