

A ideia do governo era quadruplicar a cota tarifária de importação de carne bovina argentina | Foto: Getty Images via BBC
02 de novembro de 2025 – A possibilidade de o governo dos Estados Unidos quadruplicar a cota de importação de carne bovina da Argentina tem causado indignação entre pecuaristas americanos, tradicionalmente aliados políticos do presidente Donald Trump. O plano prevê elevar o limite atual de 20 mil toneladas para 80 mil toneladas, segundo informações da imprensa americana, com o objetivo de reduzir os preços da carne no mercado interno.
O pecuarista Christian Lovell, de Illinois, é um dos que expressaram descontentamento. “Ser pecuarista é uma paixão, algo que levamos no sangue. E agora sentimos que fomos vendidos a um concorrente estrangeiro”, declarou à BBC News Mundo.
A proposta foi interpretada por muitos produtores como uma “traição” ao setor agropecuário nacional, que esperava políticas de incentivo à produção doméstica. Em resposta às críticas, a secretária de Agricultura, Brooke Rollins, afirmou que o aumento das importações argentinas “não será significativo”. Ainda assim, o governo anunciou um pacote de apoio aos pecuaristas, em tentativa de conter a revolta.
O anúncio ocorre logo após outra medida polêmica: o resgate financeiro de US$ 20 bilhões concedido por Trump ao governo argentino de Javier Milei, o que reforçou a percepção de que o presidente estaria beneficiando parceiros estrangeiros em detrimento dos produtores locais.
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Economistas do setor afirmam que a carne argentina representa apenas 2,1% das importações totais dos EUA. “Importamos mais carne bovina do Uruguai do que da Argentina”, explica David Anderson, economista da Universidade Texas A&M.
Atualmente, as principais origens da carne importada pelos EUA são Brasil, Austrália, Canadá, Nova Zelândia e México. O Brasil, maior exportador mundial, responde por 23% das importações americanas.
Segundo Anderson, mesmo que a cota argentina seja ampliada, o impacto nos preços internos seria mínimo. “O mercado deve se ajustar naturalmente: se os preços subirem, os produtores aumentarão a oferta, e o consumo cairá até o equilíbrio”, avalia.
O economista Arlan Suderman, da consultoria StoneX, concorda. “A Argentina não é uma grande ameaça. O risco real seria se Trump reduzisse as tarifas de 50% sobre a carne brasileira”, afirma.
Para muitos criadores, o problema vai além das importações. “Não somos nós que controlamos o preço da carne bovina. São as grandes processadoras”, critica Lovell, referindo-se às quatro gigantes que concentram cerca de 80% do mercado americano.
Essa concentração, somada à entrada de carne estrangeira, gera insegurança e descontentamento entre os produtores.
O aumento dos preços da carne bovina nos Estados Unidos decorre de um baixo nível histórico de oferta. O país tem atualmente o menor rebanho em 74 anos, resultado de anos de seca e preços baixos que reduziram a produção.
Enquanto isso, a demanda interna segue alta, pressionando os preços nos supermercados. Restrições às importações do México e tarifas sobre a carne brasileira agravaram o cenário.
Além disso, fatores globais como eventos climáticos extremos, surtos de doenças, custos de produção elevados e concentração de mercado também influenciam a alta no preço da carne, segundo a economista Monika Tothova, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
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