

Foto: reprodução/Cotidian
Cuidar é um ato de amor, mas também pode ser um fardo que muitos carregam em silêncio. No Brasil, milhões de pessoas dedicam suas vidas a cuidar de outros: crianças com necessidades especiais, idosos dependentes, pessoas com transtornos mentais, entre outros. Para essas pessoas, o ato de cuidar frequentemente vem acompanhado de exaustão emocional, física e financeira. E quem cuida de quem cuida?
Dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2022) revelam que quase um bilhão de pessoas em todo o mundo viviam com algum transtorno mental antes da pandemia de COVID-19, com 14% dos adolescentes globalmente enfrentando esses desafios. Além disso, transtornos como depressão e ansiedade aumentaram mais de 25% no primeiro ano da pandemia. Em 2023, a OMS reforçou a necessidade urgente de transformar os sistemas de saúde mental, destacando a importância de apoiar não apenas os que precisam de cuidados, mas também aqueles que os oferecem (PAHO, 2023).
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Para milhões de brasileiros, cuidar é um desafio diário que muitas vezes transforma suas vidas. São pais que cuidam de filhos com autismo, filhos que cuidam de pais idosos com Alzheimer, cônjuges que apoiam parceiros com depressão severa ou vizinhos que ajudam amigos em momentos de vulnerabilidade. “O envolvimento constante e intenso no cuidado de outra pessoa gera um desgaste que é, muitas vezes, invisível aos olhos da sociedade”, afirma Kennya Rodrigues, psicóloga e pesquisadora na área de saúde mental.
Essa sobrecarga não é restrita a cuidadores informais. Profissionais de saúde, como enfermeiros, auxiliares e psicólogos, também relatam níveis alarmantes de exaustão emocional. Estudos do Ministério da Saúde (2021)apontam que 70% dos cuidadores informais no Brasil apresentam algum nível de estresse crônico, enquanto profissionais enfrentam taxas crescentes de burnout devido à alta demanda e à falta de recursos.
Sinais de Sobrecarga: Você Está Cuidando Demais?
Se você é um cuidador, é importante reconhecer os sinais de que sua saúde pode estar em risco:
O impacto do cuidado vai além da saúde física e emocional. De acordo com a OMS (2022), cuidadores em todo o mundo perdem mais de 12 bilhões de dias de trabalho anualmente devido ao estresse relacionado ao cuidado. No Brasil, grande parte desse peso recai sobre mulheres, que frequentemente assumem o papel de cuidadoras principais em suas famílias, sacrificando suas carreiras, relações sociais e saúde.
É urgente adotar medidas para proteger a saúde e o bem-estar dos cuidadores. Algumas estratégias essenciais incluem:
Cuidar de outra pessoa é um gesto que transforma vidas, mas não deve custar a saúde de quem cuida. Seja você um profissional da saúde que lida com a pressão do dia a dia ou um familiar que equilibra responsabilidades domésticas e emocionais, a sobrecarga precisa ser reconhecida e enfrentada. Cuidar de si mesmo não é egoísmo; é a base para continuar cuidando de quem precisa.
Kennya Rodrigues Nézio é psicóloga formada pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), com especialização em Gestão Pública de Organizações de Saúde pela UFJF, além de mestrado em Psicologia Social pela UFSJ e doutorado em Psicologia pela PUC Minas. Com ampla experiência em políticas públicas de saúde e assistência social, atuou no Sistema Único de Saúde (SUS) e no Sistema Único de Assistência Social (SUAS), com ênfase em saúde mental e desinstitucionalização.
Seu trabalho destaca-se pela proposição de soluções voltadas à criação de redes de apoio psicossocial, com foco em Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs). Kennya também contribui para o avanço do setor por meio de publicações acadêmicas e debates, sempre comprometida com a construção de um sistema de saúde mental mais inclusivo e acessível.

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