Muitos investidores, preocupados com os efeitos do conflito na Ucrânia sobre o preço dos combustíveis, a inflação e o desempenho da economia, desfizeram-se de aplicações em ações e ativos como fundos imobiliários. Optaram por migrar para a renda fixa, atraídos pela alta da Selic, buscando aproveitar a remuneração de 11,75% ao ano garantida pela taxa de juros no mercado brasileiro.
Mas, na contramão do que se previa, a bolsa de valores voltou a se recuperar, as ações engataram novo ritmo de alta e o Ibovespa acumulou uma valorização de quase 15% no primeiro trimestre, enquanto o dólar entrou em trajetória descendente. Para quem temia um forte impacto sobre a economia brasileira por conta da guerra na Ucrânia, o desempenho dos mercados no País mostrou que os ativos financeiros são influenciados por mais do que a inflação e a temperatura imediata da economia.
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A alta das commodities, por exemplo, não teve apenas o efeito negativo de pressionar o custo das empresas e os preços ao consumidor, mas, por outro lado, também fez ingressar mais dólares no País. E esse volume de recursos foi ampliado também pelos dólares que vieram do exterior rumo à renda fixa e também na direção da bolsa, demonstrando a percepção mais favorável dos investidores estrangeiros em relação às oportunidades no mercado brasileiro.
O resultado disso foi uma queda acumulada de cerca de 14% neste ano na cotação da moeda norte-americana, surpreendendo positivamente as empresas que tinham dívidas dolarizadas, e também os consumidores, animados com a perspectiva de viajar para o exterior (especialmente a Disney), e negativamente, quem estava investido em dólar ou possuía recursos a receber na moeda norte-americana, caso de exportadores que não fizeram hedge.
Desse movimento, vimos que sair da renda variável e migrar para a renda fixa pode não ter sido uma boa escolha. Mas, por outro lado, novas oportunidades surgem todos os dias, e com o dólar no atual patamar, por exemplo, já é possível avaliar se este não é o momento de investir na moeda americana, aproveitando a baixa já registrada, e pensando que no segundo semestre teremos eleições e muita volatilidade. E aí os caminhos são vários, desde comprar dólar em espécie em corretoras autorizadas ou mesmo dos bancos tradicionais, até investir em fundos cambiais.
Também pode ser a hora de se aplicar no exterior, considerando que o custo do investimento em dólar ficou mais atrativo, e há opções interessantes de ações no mercado norte-americano, caso das empresas de tecnologia que recuaram nos últimos meses. Lembrando que temos ainda as critpomoedas, que também tem se sustentado positivamente e possuem ativos chamados “Stablecoins” que espelham o dólar.
Mas seja qual for a opção, é preciso considerar que o cenário está sempre sujeito a mudanças e instabilidades, destacadamente em um ano eleitoral, e que se posicionar em relação às aplicações financeiras requer visão de longo prazo, para que a direção dos investimentos não fique à mercê das variações de curto prazo, e também requer calma, para não se tomar decisões no calor do momento que, depois, podem se mostrar equivocadas e não se sustentar no futuro.
Charles Mendlowicz, economista, e classificado como o maior influenciador na área de investimentos financeiros do País, segundo ranking da ANBIMA
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