

Expansão das facções provoca aumento da criminalidade fora das capitais | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
08 de novembro de 2025 — A nova edição do Atlas da Violência 2025, divulgada nesta sexta-feira (7) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), revela um cenário preocupante: o avanço das facções criminosas para cidades médias e pequenas está impulsionando a interiorização da violência no Brasil.
Segundo o estudo, a desconcentração da violência letal nas grandes capitais decorre de dois fatores principais. Primeiro, a redução significativa da letalidade em centros urbanos historicamente violentos; segundo, o aumento das disputas territoriais e homicídios em regiões do interior, especialmente nos estados do Norte e Nordeste.
Capitais como Fortaleza, São Luís, Goiânia, Cuiabá e o Distrito Federal reduziram suas taxas de homicídio em mais de 60% entre 2013 e 2023, enquanto municípios menores passaram a registrar índices alarmantes de violência antes restritos às metrópoles.
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O relatório aponta que facções como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) já estão presentes em todos os estados brasileiros, ainda que com intensidades diferentes. Em locais como Bahia e Pernambuco, onde há mais de uma dezena de grupos em conflito, a disputa por territórios provoca aumento expressivo nos homicídios.
No Amazonas e no Amapá, as guerras entre o CV, PCC e organizações regionais, como a Família Terror do Amapá e o Cartel do Norte, têm transformado cidades portuárias em zonas estratégicas do crime organizado. Já em São Paulo, o domínio consolidado do PCC gera uma “paz forçada” marcada por baixa letalidade e controle total dos mercados ilegais.
O Atlas destaca ainda que as facções adotam estratégias distintas conforme seu grau de estrutura. Grupos mais organizados tendem a evitar confrontos diretos para preservar seus lucros, enquanto organizações menores e fragmentadas recorrem à violência ostensiva como forma de garantir poder e território.
Mesmo com o avanço do crime, o Brasil registra queda contínua nos homicídios desde 2018. Em 2023, grandes cidades apresentaram taxa média de 23,6 homicídios por 100 mil habitantes, enquanto cidades médias chegaram a 24,2 e pequenas registraram 20. No entanto, os 20 municípios mais violentos do país têm taxa média de 65,4 homicídios, quase três vezes superior à média nacional.
Outro alerta do relatório é a infiltração das facções criminosas em atividades produtivas lícitas e na gestão pública. Essa penetração ameaça o Estado Democrático de Direito, com influência crescente em contratos e políticas locais. Segundo o Atlas, trata-se de uma das “faces mais perigosas do crime organizado contemporâneo”.
Apesar do quadro alarmante, o estudo identifica uma “revolução invisível na segurança pública”, com políticas mais qualificadas e integradas, marcadas pelo uso de inteligência policial e ações preventivas desde a década de 2010.
O Atlas também faz duras críticas à Operação Contenção, realizada em 28 de outubro nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos. O documento afirma que ações policiais baseadas na brutalidade “se repetem há 40 anos sem reduzir o poder do crime organizado”, além de agravarem a insegurança e causarem prejuízos econômicos e sociais.
Entre os mortos, 39 eram de outros estados, o que, segundo o relatório, reforça a necessidade de maior integração entre os órgãos de segurança do país e atenção redobrada a possíveis reações do crime organizado em estados como Pará, Amazonas, Bahia, Ceará e Goiás.
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