Sempre que sou instado a refletir sobre a nossa postura perante a vida e sobre como as pessoas reagem diante dos desafios que se aparecem no cotidiano, me vem à lembrança o poema “A Pedra”, de autoria do escritor baiano Antônio Pereira, que aqui transcrevo:
“O distraído, nela tropeçou,
o bruto a usou como projétil,
o empreendedor, usando-a construiu,
o campônio, cansado da lida,
dela fez assento.
Para os meninos foi brinquedo,
Drummond a poetizou,
Davi matou Golias…
Por fim;
o artista concebeu a mais bela escultura.
Em todos os casos,
a diferença não era a pedra.
Mas o homem.”
E é a partir dessa mudança de perspectiva que quero refletir sobre o que considero a nova fronteira econômica e de matriz energética que hoje envolve diferentes agentes, públicos e privados, aqui no meu Ceará, como a expressão de um esforço conjunto de construir um novo patamar de desenvolvimento sustentável.
Pelo que temos, o Ceará já ocupa, hoje, lugar de destaque na geração de energia eólica e solar e pode mais do que dobrar sua potência energética com novas plantas de fontes solares e eólicas, gerando um acréscimo de 3,6 gigawatts (GW).
Os dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), revelam que a potência registrada somada no Ceará para as gerações solar, eólica e hidrelétrica é, atualmente, de cerca de 3,005 GW.
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Quando lembramos que até alguns anos o nosso sol era lembrado apenas como o algoz que fazia secar os açudes, esturricando o solo, e os nossos ventos eram a ameaça aos jangadeiros que singravam os verdes mares bravios na pesca artesanal, podemos afirmar que a mudança de perspectiva consolida novos cenários de conquistas e desenvolvimento para o cearense que gera energia e muda sua visão de mundo.
No tempo presente, já prospectamos novos horizontes, em outras novas direções.
Numa posição de vanguarda e arrojo tecnológico que envolve a nossa academia, o setor produtivo e o poder público, o Ceará estrutura-se para consolidar sua nova fronteira energética com plantas de hidrogênio verde, visto pelo mundo como combustível de centralidade para o futuro neutro em carbono.
Mas o que é o hidrogênio verde?
O hidrogênio enquanto combustível é classificado em diferentes escalas de cores, de acordo com a fonte de energia usada para produzi-lo como combustível. Por exemplo, o hidrogênio cinza é produzido a partir de combustíveis fósseis. Já quando a produção que vem de gás natural e há captura e armazenamento de carbono, temos o hidrogênio azul.
No caso do hidrogênio verde é aquele feito a partir da eletrólise, cuja energia inicial precisa vir de fontes renováveis, como a energia solar ou eólica para que o combustível se enquadre nesta categoria. Sua produção se dá sem a emissão de carbono, o que, segundo os especialistas, coloca esse combustível como chave para um mundo neutro em carbono no futuro próximo.
Já como resultado desse avançado quadro de arranjo interinstitucional que o Ceará detém, hoje existem pelo menos treze empresas investidoras com protocolo de instalação para operação a partir do Ceará que, além do potencial de energias renováveis, ainda foi abençoado com uma posição geográfica na “esquina do mundo”, com o nosso Porto do Pecém (hoje parceirizado estrategicamente com o Porto de Roterdã), sendo o que chamamos no Ceará de “uma mão na roda”, para fazermos chegar o novo combustível aos mercados da Europa e das Américas.
Os estudos indicam que o Brasil deve produzir o hidrogênio verde mais barato do planeta, o que garante maior competitividade no mercado ávido por uma nova matriz energética de carbono neutro, num curtíssimo espaço de tempo, não indo além de 2030.
Elemento mais abundante no universo, o hidrogênio aponta para um “novo mundo”. De acordo com o Hydrogen Europe, o hidrogênio como combustível é visto como potencial fonte de energia para aeronaves. É possível, por exemplo, usá-la como sistema de gerador de emergência. Além disso, pode servir de unidade auxiliar de energia para o avião como um todo.
No mar também há espaço para o hidrogênio como combustível, fornecendo a energia para a propulsão da embarcação. Os testes estão em desenvolvimento.
Segundo o Hydrogen Europe, já há até um projeto norueguês que pretende criar um navio de cruzeiro movido a hidrogênio e que já esteja pronto no próximo ano. Também o hidrogênio verde é projetado para alimentar veículos de serviço como caminhões, ônibus, tratores, trens e empilhadeiras.
É assim que imagino a participação do brasileiro no dia-a-dia das cidades, na construção do processo de participação política. Novas formas formas de “energia” que podem e devem ser novas descobertas para problemas que pareciam insolúveis e que podem ser resolvidos a partir de uma forma diversa no olhar!!!
Roberto Claudio Rodrigues Bezerra foi por duas vezes (2013 a 2020) prefeito de Fortaleza (CE), cidade na qual é o presidente do Diretório Municipal do PDT. É médico sanitarista, com PhD em Saúde Pública pela Universidade do Arizona.
Conteúdo original publicado no site Congresso em Foco
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