Segundo analistas de mercado, o aumento da Selic está em linha com o mercado | Foto: reprodução
A elevação da taxa Selic de 12,75% para 13,25% ao ano não é uma surpresa para os analistas de mercado. O Copom manteve o posicionamento da última reunião realizada há 45 dias e, segundo especialistas ouvidos pelo Portal Terra da Luz a elevação segue em linha com as expectativas do mercado financeiro.
As projeções de IPCA do cenário base avançaram de 7,3% para 8,8% em 2022 e de 3,4% para 4,0% em 2023, com o IPCA voltando para meta somente em 2024, em que o Copom espera inflação de 2,7%, apesar das elevadas expectativas de taxa Selic no boletim Focus – 13,25% (2022), 10,0% (2023) e 7,50% (2024). O Copom seguiu com bandeira amarela (atualmente, bandeira verde) e optou por não adicionar as medidas do pacote de combustíveis em suas projeções, mas antecipou que o efeito deve ser de pressionar a inflação de 2023, em troca de uma inflação mais baixa em 2022.
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Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “o comitê segue destacando que a prescrição de política monetária é de continuar avançando significativamente em território ainda mais contracionista, apesar de considerar fatores baixistas e altistas para o cenário inflacionário”.
O Copom também manteve o viés de alta da taxa de juros básicos. Para Borsoi, é uma medida necessária e que deve se estender até o segundo semestre de 2022. “Em nossa visão, entendemos que o Copom terá de estender o ciclo de alta de juros até agosto, não só pelo movimento antecipado pelo Copom para a próxima reunião, mas por acreditarmos que a aprovação do pacote de combustíveis deve levar à nova rodada de elevação nas expectativas de inflação de 2023, o que exigirá nova alta de juros pelo Copom. Com isso, decidimos revisar nossa expectativa de taxa Selic terminal de 13,25% para 14,00%, projetando alta de 0,50% na reunião de agosto e alta de 0,25% na reunião de setembro, onde deve permanecer até o fim de 2022” conclui.
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O aumento de juros é um remédio amargo, mas ele é sim adequado para a tentativa de controle da inflação. Isso porque quando nós estamos numa escalada de preços muito acentuada como a que vivemos nos últimos tempos, é preciso frear a velocidade do consumo. E uma das formas de fazer isso é aumentando o custo do dinheiro. Então quando se aumenta os juros, o dinheiro fica caro, as empresas pegam empréstimos mais caros e reduzem também os próprios investimentos. Além disso, as pessoas tendem a consumir menos e isso faz com que os preços acabem se estabilizando.
Leandro Vasconcellos, CFP e sócio da BRA, medidas adicionais também deveriam ser adotadas junto com o aumento das taxas de juros. “O governo poderia reduzir os próprios gastos. Quando o governo que é um grande consumidor também corta na própria carne e reduz os próprios gastos, ele tá contribuindo pra que a inflação pare de subir”, analisa.
Para Rafael Marques, CEO da Philos Invest, o resultado do COPOM saiu em linha com o esperado. “Mesmo com os indicadores da última semana se deteriorando, o Banco Central com esse aumento de taxa, que é um pouco menor do que a última que tinha sido feita de 0.75, mostra pro mercado que, de fato, a gente tá chegando no fim do ciclo de alta, de taxa de juros aqui no Brasil”, avalia.
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A grande dúvida que fica agora para o mercado é saber se a manutenção da taxa nesse patamar, num cenário de guerra e de crise global, será suficiente para frear os números de inflação e em quanto tempo os resultados vão aparecer. “Eu acredito que o Banco Central continua ainda monitorando os indicadores de mercado, deixando em aberto uma porta para caso necessário, caso o mercado se deteriore, ele tenha um novo aumento e um aumento mais forte para conter os números de inflação”, projeta Rafael Marques.
Para o economista e sócio da BRA, João Beck, embora a elevação da taxa Selic esteja em linha com mercado, ainda não é possível saber se o ‘remédio amargo’ vai curar a doença na economia brasileira, mesmo com a sinalização de que o Copom ainda planeje aumentar a taxa em 0,50 ou 0,25 pontos na próxima reunião. “Imaginar que nossa taxa Selic fosse chegar próxima de 14% era impossível há um semestre atrás. Mas estamos chegando perto e graças ao ciclo de commodities mais favorável e a reabertura da economia não passamos por uma recessão. Novas incertezas surgiram no arcabouço fiscal, um perigo que ficou adormecido durante meses. A redução temporária de impostos incidentes sobre os combustíveis pode levar a um efeito ‘rebote’ desancorando as expectativas de inflação para 2023, concluiu.
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