Voltamos à área reflorestada de 206 hectares (ha) na Estação Ecológica do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, após 10 anos da realização do Programa de Reflorestamento da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP). Lá foi o maior espaço reflorestado pela empresa, além de 15 ha na Lagoa do Bolso e 191 ha na área interna da empresa, somando 412 ha, com 320 mil mudas de 90 espécies nativas, incluindo o Gonçalo-alves, ameaçado de extinção. Mas como esse programa foi feito e quais os resultados?
Ramyro Batista entrou na CSP em 2012 como analista de Meio Ambiente para acompanhar esse reflorestamento. “O programa foi inovador desde a supressão vegetal na área de construção da usina. Foi realizada a coleta genética de cada planta identificada. Mapeamos 90 espécies da flora na área da CSP e não era autorizado o corte sem antes coletar fruto para beneficiar a semente e gerar mudas, mantendo a mesma genética e preservando a biodiversidade local”, relembra Ramyro.
A siderúrgica criou um viveiro florestal próprio, levando o excedente ao armazenamento em um banco de germoplasma, um laboratório especializado em armazenagem de sementes para outros programas de reflorestamento que foi doado ao Parque Botânico do Ceará, em Caucaia. Em função do acompanhamento do reflorestamento durante dois anos, a CSP foi a primeira empresa no Estado a receber a certificação de reflorestamento ambiental da SEMACE (Superintendência Estadual do Meio Ambiente). Além disso, foi produzido o livro “Fazendo o certo, da maneira certa”, com o relato detalhado do projeto.
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Aline Parente Oliveira, que atuou sete anos como gestora da Unidade de Conservação de Proteção Integral Estação Ecológica do Pecém, gerenciada pela Secretaria do Meio Ambiente (SEMA), relatou sobre a importância e objetivos de criação da UC (realização de pesquisa científica e a preservação do ecossistema) e enfatizou sobre atividades socioambientais realizadas na Sede administrativa, tais como palestras, oficinas, capacitações e vivências ambientais. A sede conta com auditório, biblioteca, salas de reuniões, expositor de banco de sementes e duas trilhas ecológicas.
“Com o surgimento da CSP, que se mostrou muito envolvida, não só com a questão do reflorestamento, mas com a preocupação de cuidar da unidade de conservação para as pessoas que estão vivendo ali ao redor, desenvolvemos várias ações para as comunidades locais. Tem sempre um elo entre a empresa, a Secretaria do Meio Ambiente e as comunidades locais. Temos vários parceiros e a CSP é um deles”, relata Aline.
Nertan Bento Bandeira é o guia das duas trilhas demarcadas na Estação Ecológica do Pecém. Ele conta do orgulho do seu trabalho. “A gente cuida do lugar como se fosse nossa própria casa e mostra aos visitantes como forma de educação ambiental”, ressalta o caucaiense que nos levou ao ponto onde foram gravadas imagens para um mini-webdoc sobre o reflorestamento.
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A área recuperada pela CSP equivale a 412 campos de futebol. O gonçalense José Gildo Bezerra Correia fez parte dessa história e aprendeu o ofício com o qual trabalha até hoje. Ele tem um negócio de paisagismo, jardinagem, plantio de produção de mudas.
“Eu trabalhei na empresa que fez a supressão vegetal na CSP. Após 10 meses, passei pra função de reflorestamento, plantando mudas nativas na Estação Ecológica do Pecém. Aprendi a trabalhar com plantas. Continuei prestando serviço à CSP até 2021 e hoje tenho meu próprio negócio”, conta Gildo, olhando com orgulho pra flora que ele ajudou a desenvolver.
Os 10 anos do Programa de Reflorestamento da CSP é um dos temas a serem celebrados e debatidos na Semana do Meio Ambiente 2022 da CSP, que acontece de 6 a 11 de junho, com palestras, plantio de árvores, passeio e sorteio de brindes.
Em toda área da CSP, durante o processo de supressão vegetal, foram encontrados apenas três exemplares de grande porte da espécie nativa Gonçalo-alves, bastante utilizada em movelaria. Esse fato, somado à literatura sobre essa árvore, ligou o sinal de alerta para o potencial de extinção da espécie. Assim, passou a ser o carro-chefe do reflorestamento da CSP, conforme relembra Ramyro Batista.
A árvore pode atingir altura entre 8 e 12 metros. A planta tem uso medicinal e é cultivada também para o paisagismo e a arborização urbana. Para cooperar com a preservação do Gonçalo-alves, a CSP coletou sementes e utilizou mudas da espécie em ações de reposição florestal. A madeira da espécie é própria para construção civil e naval, marcenaria, confecção de dormentes, corrimãos, balaústres, mancais, esteios, rodas hidráulicas e portas de fino acabamento. A árvore, pelo porte médio e graciosidade de sua copa, é muito útil para o paisagismo em geral.
A curiosidade sobre a planta também fez a espécie ser lembrada para compor experimentos científicos brasileiros em ambiente de microgravidade na Missão Centenário, em março de 2006, na Estação Espacial Internacional (ISS). “A bordo da nave russa Soyuz TMA-8, as sementes foram levadas pelo tenente-coronel Marcos Cesar Pontes, primeiro astronauta brasileiro a ir ao espaço”, informa a Embrapa. Durante o experimento no espaço, as sementes do Gonçalo-alves germinaram com maior velocidade, em comparação ao ambiente terrestre.
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Internamente, a CSP segue avançando na ampliação da Barreira Verde que “abraça” a usina, ação projetada como um equipamento de proteção ambiental em 2012. Desde então, vem somando vários benefícios para quem trabalha na CSP e mora nas proximidades. A expansão das barreiras verdes da CSP recebeu 1.308 novas mudas em 2021. Ao longo de 2022, deverão ser plantadas mais de 8 mil mudas.
“A meta é adensar ao máximo, trazendo mais verde pra a siderúrgica e diminuindo a chegada de ventos nessas áreas que têm pilhas de materiais com potencial de geração de particulados. Nossa meta é fechar algumas áreas. Atualmente, estamos fechando o pátio de matérias-primas”, reforça o analista ambiental.
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