O Além da Rua – Festival Internacional de Arte Urbana concluiu a última etapa desta edição, que abraçou o desafio de realizar grandes empenas de 360 graus na cidade de Fortaleza, ou seja, grandes pinturas, com mais de 20 metros de altura. Para ver o resultado dessa empreitada, já entregue aos moradores e turistas de Fortaleza, basta trafegar pelos bairros Pici e Jardim América, bem conhecidos da capital cearense.
Sobre a última etapa, realizada no reservatório da Cagece, na rua Jorge Dumar, já se aproximando da avenida Borges de Melo, no Jardim América, a construção de 35m ganhou uma nova roupagem. Como uma tela dividia ao meio, as pinturas que agora cobrem o reservatório e dão um colorido todo especial àquele ponto do bairro, foram assinadas pelos artistas Manoel Quitério, de Pernambuco, e Jessyca Sereia, da Paraíba.
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Quitério é artista visual, grafiteiro, arte-educador e artista social. Com 15 anos de trajetória nas artes plásticas e dedicação a pesquisas sobre dinâmicas de reparação ao dano histórico, é mestrando em Pintura pela Universidade de Lisboa. Quitério conta que suas obras trazem mensagens mais profundas, lembram os ancestrais e os conhecimentos que nós recebemos em casa.
“Minha Obra é uma celebração disso. Coloquei para fora o que tenho no coração, me ajudando a me encontrar e ajudando as pessoas a se encontrarem um pouquinho ali”, resume Quitério. O resultado foi uma arte cheia de cor e símbolos, com elementos como o sol e a lua.
Do outro lado do reservatório, Sereia deixou sua marca. A artista é natural da Paraíba, mas reside há seis anos no Cariri cearense e desenvolve trabalhos de muralismo, graffiti e ilustrações em técnicas mistas. Seu trabalho é baseado em personagens, tendo a mulher como foco. Dessa vez não foi diferente. Quem passa pela praça do Jardim América e olha para cima, vê uma majestosa figura feminina, de cabelos verdes e ligada a elementos da natureza, unindo o mar ao sertão.
Além do reservatório, dois muros laterais da casa de operações da Cagece também receberam as intervenções dos artistas do Além da Rua. Elas ficaram por conta de Selon, de Goiás, e Zé Victor, do Ceará.
Selon reside em São Paulo desde de 2020 e desenvolve murais e intervenções urbanas desde 2000. Ele atua na criação, produção e execução de projetos de artes visuais para editais e leis de incentivo à cultura. Executou inúmeros murais de arte pública e murais internos para residências e empresas de pequeno, médio e grande porte. O muro, pintado pelo artista, lá na praça do Jardim América, ganhou dinamismo e movimento através do azul, branco e amarelo, cores escolhidas por Selon para essa pintura.
Zé Victor, natural de Fortaleza, é grafiteiro, artista visual e designer gráfico. Traduz nas suas obras uma estética que mescla os traços caligráficos com figuras do imaginário do artista em composições de cores vibrantes, carregando sempre uma forte influência da cultura de rua. O mural feito por ele, no Jardim América, fala sobre autoconhecimento, sobre olhar para dentro de si. “A janela posicionada na testa da personagem representa essa expansão da consciência quando temos o autoconhecimento. Os pássaros voando representam uma jornada de expansão, de dentro pra fora, externalizando essa energia”, explica o artistas.
Para Robézio, idealizador do Além da Rua, o festival não cria apenas nos símbolos urbanos, mas, principalmente, permite um novo olhar para essas construções e muros. Na sua avaliação, é uma forma moderna de trazer uma nova imagem para espaços da cidade e de impactar visualmente, possibilitando novas maneiras da população de se relacionar com a paisagem urbana em seu entorno. “Somamos muita conexão urbana nessas ações, deixando um legado para a cidade”, pontua.
O desafio dessa edição era pintar grandes empenas, o que foi cumprido. O reservatório da Cagece, situado no Jardim América, por exemplo, tem 35m de altura e um total de 1.350m² de superfície, equivalente a um edifício de 12 andares. “Considerando paredes frente e fundo do galpão, piso decorativo da pracinha, podemos dizer que foram mais de 2000 mil metros quadrados de superfície pintadas”, calcula Ivina Passos, diretora da Ato Marketing Cultural, realizadora do evento.
Há outras curiosidades da edição. As pinturas são um somatório de 17 cores escolhidas pelos quatro artistas. Foram 43 latas de 16 litros e 19 galões de 3,2 litros utilizados. E para todo o trabalho acontecer, teve muita gente envolvida. Foram 40 pessoas que atuaram diretamente na equipe de direção artística, produção, pintura, engenharia, assessoria, fotógrafos, eletricista, bombeiros, agentes da AMC e seguranças. Também tiveram fornecedores e parceiros envolvidos diretamente na execução, 49 no total.
Ivina Passos pontua que para tudo sair sem surpresas, a segurança para os artistas, equipe e transeuntes foi um capítulo à parte. A primeira providência nesse quesito foi a certificação NR 35, uma norma brasileira que regulamenta os procedimentos de segurança para trabalho em altura, garantida após um treinamento de no mínimo 8h com profissionais certificados e com vasta experiência nesse tipo de trabalho. “Dessa forma, toda a equipe foi formalmente habilitada para a execução das pinturas”, conta.
Durante o período de pintura, Ivina Passos conta que o Além da Rua teve um olhar muito cuidadoso sobre todos os itens relacionados à segurança, que além da habilitação da equipe para trabalho em altura, contou também com segurança viária, patrimonial, além de instalações e cabeamentos para os equipamentos de pequeno porte. “Tivemos a equipe da Cagece alinhada à nossa equipe da Taurus engenharia, nas providências técnicas relacionadas à eletricidade, cabos, aterramentos, extintores de incêndio e afins”, detalha.
Sobre toda essa experiência do Festival, Ivina afirma ter sido a mais desafiadora e uma das edições mais complexas da trajetória do Além da Rua, principalmente pelo impacto visual e artístico proporcionado para Fortaleza. “Essas Caixas D’água fazem parte do histórico não só da cidade, mas da memória afetiva de muitos de nós, fortalezenses. Agora, construirão novas percepções e novos afetos. É um legado que o projeto deixa na cidade”, destaca.
A primeira pintura foi realizada em fevereiro deste ano, em um reservatório de água, também de 35 metros de altura, no bairro Pici. Quem assina a arte, que já ficou de legado para a paisagem daquele ponto da cidade, é o coletivo Terroristas del Amor, formado pelas cearenses Dhiovana Barroso e Marissa Noana, naturais de Fortaleza.
O projeto Além da Rua é realizado com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura, com patrocínio da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) e das Tintas Suvinil. É idealizado pelo Acidum Project, que também assinou a curadoria desta edição e conta com a parceria da Taurus Engenharia e da Prefeitura Municipal de Fortaleza, através do selo Cidade Criativa do Design – da UNESCO, sendo realizado pela Ato Marketing Cultural.
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