

As autoridades de saúde no Ceará discordam da nova decisão do Ministério da Saúde adotada de forma unilateral | Foto: divulgação/PMF
O Ceará vai continuar vacinando os adolescentes de 12 a 17 anos com ou sem comorbidades, contrariando a revisão da recomendação sobre as vacinas contra a covid-19 apresentada pelo Ministério da Saúde (MS). A decisão acerca da continuidade do programa de vacinação dos adolescentes foi anunciada pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), após reunião extraordinária da Comissão Intergestores Bipartite (CIB-CE), realizada na tarde de quinta-feira (16/9).

A Sesa e o Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Estado (Cosems-CE) informaram que apoiam o Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) que decidiram cobrar um posicionamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária sobre a mudança em relação à orientação anterior, que autorizava o uso do imunizante da Pfizer no público de 12 a 17 anos com ou sem comorbidade.
A CIB-CE também discorda da Nota Técnica do Ministério da Saúde baseada em uma decisão unilateral. Por isso, os órgãos solicitam uma discussão sobre a vacinação dos adolescentes com representantes da União, Estados e Municípios.
Segundo o Comunicado Oficial da Sesa, o Ceará já vacinou 196.835 adolescentes, sem registro de eventos adversos pós-vacinação (EAPVs) graves. A Sesa conclui a nota reafirmando o entendimento de que a imunização dos adolescentes é fundamental para o cumprir as metas de diminuição de circulação do coronavírus para abrandar os efeitos da pandemia de covid-19 e prosseguir com o plano de retomada das atividades econômicas no Estado.

Em entrevista coletiva, no final da tarde de quinta-feira, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que uma série de motivos pesaram para que a pasta resolvesse revisar a recomendação e suspender a vacinação de adolescentes sem comorbidades.

Segundo Queiroga, foram identificados 1,5 mil eventos adversos em adolescentes imunizados. Todos eles foram de grau leve. Foi notificado um caso de morte de um jovem em São Paulo, mas o episódio ainda está sendo investigado para avaliar se a causa foi o imunizante.
O ministro reclamou que, a despeito da orientação anterior para que a imunização deste público tivesse início na terça-feira (15/9), já foram vacinados 3,5 milhões de adolescentes por autoridades locais de saúde.
Ele acrescentou que houve diversos casos de prefeituras que aplicaram vacinas não autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A agência só permitiu o uso da Pfizer/BioNTech para adolescentes de 12 a 17 anos. Nos registros do Ministério da Saúde, entretanto, dados enviados pelos Estados mostram este público sendo imunizado com outras vacinas.
“Em relação aos subgrupos, as evidências estão sendo construídas. O NHS [SUS do Reino Unido] restringiu a vacinação nos adolescentes sem comorbidades. Aqueles que já tinham sido imunizados com 1ª dose se recomendou parar por ali”, disse Queiroga.
A secretária extraordinária de enfrentamento à covid-19, Rosana Leite, mencionou também orientação da Organização Mundial de Saúde sobre o assunto.
“A OMS não recomenda, mas sugere que pode se pensar [na vacinação de adolescentes] a partir do momento que tenha vacinado toda a população, principalmente as mais vulneráveis, com duas doses”, disse.
Perguntados se a suspensão da vacinação teria relação com a falta de vacinas, os representantes do ministério descartaram essa hipótese e afirmaram que não há problema de abastecimento de doses no país. “Não falta vacina. Será que elas foram utilizadas de forma inadvertida? Provavelmente”, sugeriu a secretária Rosana Leite.
Diante da suspensão, os adolescentes sem comorbidades que receberam a primeira dose não devem ter a aplicação da segunda dose. A orientação de interromper a imunização vale também para aqueles com comorbidades que tomaram a primeira dose da AstraZeneca ou CoronaVac.
Segundo o Ministério da Saúde, apenas os adolescentes com comorbidades imunizados com a Pfizer/BioNTech na primeira dose podem seguir com o processo de imunização e completar o ciclo vacinal, procurando os postos para receber a segunda dose.
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