

A ideia do zoneamento geológico é estabelecer, a partir de laudos técnicos, uma escala de risco para cada parque ecológico turístico e, se for necessário, isolar determinadas áreas ou delimitar o espaço que pode ser visitado | Foto: reprodução/Internet
Era manhã do sábado, 8 de janeiro de 2022, em Capitólio, um dos destino turísticos mais procurados de Minas Gerais. O dia amanheceu chuvoso. Mas isso não impediu que as lanchas de passeio aportadas no lago artificial da Usina Hidrelétrica de Furnas saíssem para novas aventuras. O lugar é conhecido como “Mar de Furnas” e atrai visitantes de todo o Brasil e de várias partes do mundo, que querem ver de perto imensos paredões de rocha com mais de 30 metros de altura.
Apesar da chuva, tudo ia bem no passeio. Até o perigo iminente de um desastre é percebido. Pedras começam a se desprender do cânion. Em desespero, turistas que estão mais afastados do paredão de rocha gritam, em vão, para que os pilotos das lanchas que estão mais próximas do cânion se afastem. São cenas desesperadoras captadas de vários ângulos pelos celulares dos próprios turistas e que tem um desfecho assustador: uma pedra gigante cai sobre quatro lanchas. Uma delas, chamada de “Jesus”, é esmagada. Dez pessoas morreram. (Reveja as cenas abaixo)
>>>>>SIGA O YOUTUBE DO PORTAL TERRA DA LUZ <<<<<
“Nós só aprendemos com tragédias no Brasil. Mas nós temos outra leitura. Tem que se fazer um zoneamento de risco geológico e aquelas que oferecem maior potencial de risco devem ser isoladas e monitoradas por geólogos”.
WAGNER CASTRO, professor Doutor em Geomorfologia, Titular do Departamento de Geologia da UFRJ
Para o geólogo Wagner Castro, professor Doutor em Geomorfologia, Titular do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o acidente em Capitólio trata-se de uma tragédia anunciada, como revelou em entrevista ao Portal Terra da Luz, no dia da tragédia.
Passado o luto pelas vítimas, agora é hora de tentar aprender com os erros do passado.

Para o professor está na hora do Brasil ter uma política nacional de proteção do Turismo de Natureza, uma vez que as aventuras ao ar livre oferecem perigos, sejam de menor ou maior potencial.
“”Nós só aprendemos com tragédias no Brasil. Mas nós temos outra leitura. Tem que se fazer um zoneamento de risco geológico e aquelas que oferecem maior potencial de risco devem ser isoladas e monitoradas por geólogos. Estamos discutindo muito no âmbito da Sociedade Brasileira de Geologia de Engenharia, que é a área da Geologia que trata essa questão mais a fundo, uma proposta, em nível nacional, para o Brasil incorporar uma política de governo em relação a todas essas áreas de turismo ecológico”, revela o professor.
A ideia do zoneamento geológico é estabelecer, a partir de laudos técnicos, uma escala de risco para cada parque ecológico turístico e, se for necessário, isolar determinadas áreas ou delimitar o espaço que pode ser visitado.
“Sempre essas tragédias aconteceram, sempre vão ocorrer. Então, o zoneamento de risco geológico e ambiental vai delimitar essas áreas potenciais de risco, fazer uma delimitação e definir uma escala de risco geológico que pode ser como acontece nas escalas, por exemplo, os terremotos que vai de 1 a 5, e de outros desastres naturais” ressalta o professor Wagner Castro.
O especialista destaca que o Brasil possui serviço geológico há bastante tempo: “Eu acredito que já tenha um mapeamento em pequenas escalas do território nacional sobre risco geológico, mas as prefeituras negligenciam essas informações e continuam dizendo que é coisa que acontece, que a tragédia nunca tinha acontecido antes e etc.”

O problema é que, segundo o professor Wagner Castro, no ramo de desastres naturais, o serviço geológico do Brasil tem pouca tradição, portanto, quanto mais prevenção, melhor: “É preciso que esses lugares tenham laudos geológicos que informem sobre os riscos para o cidadão. Tanto em região de praia, como as dunas e as falésias do Ceará e do Rio Grande do Norte, por exemplo, como também nessas regiões de Chapada, tipo a Chapada do Araripe, a Chapada dos Veadeiros e a Chapada dos Guimarães dos Guimarães, no Mato Grosso, para se tentar evitar esse tipo de tragédia”.
Leia também | Coreia do Norte desafia sanções dos EUA com lançamento de novo projétil