O presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente da China, Xi Jinping, em reunião bilateral em 2019 | Foto: REUTERS/Kevin Lamarque/Foto de arquivo
A recente escalada na guerra tarifária entre Estados Unidos e China marca não apenas uma disputa econômica, mas também uma mudança profunda no cenário geopolítico global. Enquanto os EUA, sob a liderança de Donald Trump, adotam uma postura isolacionista e protecionista, a China avança com alianças multilaterais e defesa da globalização.
Ao longo da semana, os dois países impuseram tarifas mútuas que sacudiram os mercados internacionais. Em resposta às medidas norte-americanas, o presidente chinês Xi Jinping propôs resistir ao unilateralismo e fortalecer a globalização econômica com parcerias na África, América Latina e Europa.
Segundo o professor Gustavo Uebel, especialista em geopolítica da ESPM, o governo Trump busca influenciar a nova ordem internacional por meio de tarifas e decretos, rompendo com a diplomacia tradicional. Para ele, Trump tenta reequilibrar o poder global sem o uso de guerra ou acordos multilaterais.
Em contrapartida, Xi Jinping reafirma o compromisso da China com uma ordem internacional multilateral, aproximando-se da União Europeia, que se vê enfraquecida e isolada no novo cenário. Uma reunião entre Xi e o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, reforçou o convite para que o bloco europeu se una a Pequim contra o tarifaço dos EUA.
A tendência, segundo analistas, é de uma fragmentação do mundo em zonas de influência lideradas por China, EUA e Rússia. Esse novo arranjo internacional indica o fim da era em que a União Europeia ditava as diretrizes da diplomacia global.
A revista The Economist classificou recentemente a política externa de Trump como “mafiosa”, comparando-a à lógica de Don Corleone, personagem de O Poderoso Chefão. A publicação afirma que nos próximos anos, o mundo será moldado por acordos de força entre grandes potências, relegando nações menores a coadjuvantes no tabuleiro global.
Na América Latina, tradicionalmente sob influência norte-americana, a China também avança. Nesta sexta-feira (11), o ministro do Comércio da China conversou com o vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, com foco no fortalecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC) e outros organismos multilaterais.
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