

Descoberta reforça resgate da memória afro-brasileira | Foto: Arquivo pessoal/Luís Eduardo Oliveira
05 de outubro de 2025 – Uma pesquisa sobre a história do município de Cabo Verde, no Sul de Minas, levou a uma descoberta que reacende lembranças do período escravocrata no Brasil. Um detector de metais identificou um artefato metálico no interior de uma paineira centenária, o que pode confirmar relatos transmitidos por gerações sobre o uso da árvore para prender pessoas escravizadas durante o século XIX.
A árvore, localizada na borda de um cafezal na zona rural do município, é envolta em histórias antigas sobre castigos e vendas de pessoas escravizadas. Moradores afirmam que a paineira, com cerca de três metros de diâmetro, teria “engolido” uma corrente usada para amarrar escravizados conforme crescia.
Segundo o morador Daniel Paiva Batista, herdeiro da propriedade onde a árvore está, o relato é passado na família desde 1930:
“Eles amarravam os escravos com correntes na paineira. Quando a árvore cresceu, acabou envolvendo o ferro dentro do tronco.”
Curioso para confirmar a história, Batista procurou o professor de História Luís Eduardo Oliveira, pesquisador e autor de um documentário sobre a presença negra em Cabo Verde. Usando um detector de metais, Oliveira confirmou que o equipamento apita somente na altura da cintura, indicando a presença de um objeto metálico dentro da árvore.
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De acordo com o historiador, o objeto pode ser uma corrente de ferro fundido, e ele defende que a árvore não seja alterada:
“A paineira se tornou um espaço de memória. Se o artefato for removido, ela vira apenas uma árvore e o objeto, apenas ferro. Juntos, contam uma história.”
A bióloga Luciana Botezelli, da Universidade Federal de Alfenas (Unifal), explica que embora paineiras vivam, em média, de 50 a 70 anos, há registros de exemplares centenários. Ela ressalta que o fenômeno de uma árvore “envolver” metais é raro, mas possível, e destaca o simbolismo do caso:
“Um local de dor e sofrimento que agora floresce como uma árvore linda e resistente.”
A descoberta foi motivada por um documentário lançado em 2023 sobre as raízes negras e indígenas de Cabo Verde, produzido por Oliveira e pela cientista social Lidia Maria Reis Torres.
Fundado em 1762, o município foi um importante centro cafeeiro durante o período escravocrata. Porém, como lembra Oliveira, a cidade passou por um processo de “institucionalização do esquecimento”, com poucas referências à contribuição negra em sua história oficial.
“Essas histórias orais, contadas de geração em geração, são fundamentais para resgatar um passado que foi apagado das narrativas oficiais”, afirma Lidia.
Com a descoberta da paineira, os pesquisadores pretendem aprofundar as investigações sobre a memória afroindígena local, fortalecendo o reconhecimento de um passado histórico muitas vezes silenciado.
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