Usamos os termos perigo e risco como sinônimos, prontos a substituir um pelo outro dando o mesmo sentido. Sugiro que façamos uma nova reflexão, não da origem das palavras, mas de seus significados.
O filósofo polonês Zygmunt Bauman, em seu livro “Em busca da política”, apresenta o conceito de crise fazendo uma oposição ao de desastre. O primeiro, designa um momento de tomada de decisões baseadas em critérios, o segundo, desastre, refere-se ao inevitável, fora das condições individuais de controle.
Repercutindo esta diferenciação conceitual, Bauman demonstra um outro olhar quanto às palavras perigo e risco. Perigo estaria afeito a inerência das coisas e fatos, enquanto risco deriva das nossas decisões e ações diante de algo.
Se o primeiro, tal qual o desastre, apresenta-se fora do controle do indivíduo, o risco, tal qual a crise, surge como possibilidade de intervenção no curso de uma ação.
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Trazendo estes conceitos para o campo da segurança pessoal, podemos inferir que o perigo é a condição natural de uma dada situação.
A rua é um ambiente extremamente volátil e imponderável. Podemos então falar sobre “o perigo das ruas”.
O risco é a consequência de uma tomada de decisão, que permite diversas respostas. Dizemos, nestes casos, que fulano “assumiu o risco”.
Gosto do seguinte exemplo para tornar concreta essa diferença tão tênue: Chove e você decide ir ao trabalho dirigindo seu carro.
O tempo chuvoso, o molhado do asfalto e todos os demais fatores ligados a um temporal, representam perigos a quem vai dirigir. Há perigos inerentes à condição do tempo e das vias.
Mas você está decidido sair de carro.
No entanto, seu veículo está com pneus em baixa condição de aderência, o limpador de para-brisa quebrado, e o sistema de calefação não funciona, ou seja, vai ficar tudo embaçado.
Sair nestas condições precárias é assumir o risco de algo ruim acontecer, você está potencializando as condições de perigo que a situação apresenta.
Outro exemplo: Se você está no carro e para no semáforo, há o perigo de ser abordado por um criminoso.
Se você está no carro e para no semáforo, e deixa vidros baixos e se concentra na leitura das mensagens do celular, você assume o risco de ser abordado.
Quantas vezes reclamamos da violência centrando nossas queixas no quanto “a cidade está perigosa”, mas não pensamos em quantos riscos assumimos que “facilitam” a vida de um agressor.
Não compartilho da escola da culpabilidade da vítima, mas não posso deixar de considerar que ao negligenciarmos um cuidado de segurança, muitas vezes somos quase cúmplices morais do criminoso, nós facilitamos, auxiliamos o agressor na realização de sua ação violenta.
Minha proposta é tomarmos a firme e consciente decisão de sermos o protagonismo de nossa segurança, transformando o nosso ambiente de convivência mais seguro.
Um protagonista diminui riscos, atenua perigos.
Mas cabe a você responder: riscos e perigos, iguais ou diferentes?
Wellington Nunes é jornalista e criador de conteúdo do Proteção e Autodefesa
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