Tive a curiosidade de pesquisar no texto bíblico a citação em que se fala de um reino dividido e encontrei no Evangelho de Marcos, capítulo 12, versículo 25, no Novo Testamento, o trecho que, traduzido diretamente do grego, diz: “Jesus, porém, conhecendo as reflexões deles, disse-lhes: Todo reino dividido contra si mesmo está deserto, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não permanecerá de pé”.
Minha curiosidade a este trecho veio no esteio da preocupação do que ocorre, neste momento, em nosso País, agora com a agudização de um crise institucional entre poderes da República, com dispêndio de energia que poderia ser canalizada para tentar equacionar os graves problemas nacionais da atualidade.
Em cumprimento a um script previamente elaborado desde o primeiro dia de Presidência, vemos um roteiro de criação permanente de crises como, suspeita-se, a fórmula diversionista de ocultar a inaptidão gerencial que se evidencia, a cada dia, desde o 1° de janeiro de 2019.
Com uma fila de 14 milhões de desempregados, com a mais absoluta inexistência de políticas públicas para geração de emprego e renda ou atividade que possa dar, minimamente, a dignidade do pai ou mãe de família para assegurar o seu sustento e dos seus, com a estagnação econômica que irrompe do campo à cidade, com a preocupante cena internacional de não aceitação de produtos brasileiros pelo descompromisso com o meio ambiente e, sobretudo, pela estapafúrdia desorganização governamental advinda do planalto central, não vejo como ainda prevalece a disposição do atual ocupante da cadeira de presidente do País para gerar novas e infindáveis crises institucionais.
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Ainda estamos saindo da pior crise sanitária que o mundo enfrentou neste século, estamos à volta com uma grave crise econômica que faz o Brasil incorrer num processo de desindustrialização, com grande parte do nosso parque fabril ocioso ou perdendo competitividade, e experimentamos a incapacidade gerencial de investimentos na direção de uma nova economia porque há, sim, uma revolução em curso e temos a absoluta certeza de que o Brasil está ficando cada vez mais para trás, apesar do sucesso eventual de um ou outro setor da nossa economia conseguir furar a bolha de marasmo governamental a que nos submetemos no momento.
Sabemos que não nos é possível prever o futuro na sua inteireza e apontar o caminho que devemos seguir, mas podemos afirmar, com absoluta certeza, que quanto mais demora-se para analisar o problema, mais tardiamente vem a solução. Isso quando se consegue chegar até ela.
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O desafio para trilhar os novos caminhos da economia é absurdamente grande e, ao invés de estarmos debruçados sobre ele, estamos vendo um (des)governo que nada faz para encaminhar projetos e ações no sentido de qualificar um programa estruturante que coloque o Brasil na locomotiva do desenvolvimento.
Estamos perdendo tempo e energia com uma desastrada equipe de governo, que mais prefere o embate inócuo e infrutífero, desrespeitando as reais necessidades da nossa gente.
O Brasil perde o bonde da história e atropela o mais elementar conceito de administração pública e, de forma absoluta, não consegue vislumbrar um caminho a seguir.
Parece que a única cartilha ou manual de instruções existente, hoje, no planalto central, é o que sinaliza para o antagonismo institucional e para a polarização de polêmicas.
Até o final deste quadrante, podemos afirmar, não teremos a elaboração mínima de alguns princípios ou regimento que nos levem enquanto nação a um patamar mínimo de governança para o enfrentamento dos reais problemas nacionais, que não são poucos.
Não se vislumbra, sequer, a possibilidade honesta de discutir sobre uma forma de construir e conceber a economia, com um projeto que insira a população economicamente ativa de novo no mercado, que crie as novas oportunidades de economia criativa para inclusão da nossa juventude, que estabeleça padrões mínimos de obediência ao imperativo de dignidade pelo trabalho para a nossa gente.
Não se discute nem mesmo a reformulação de um sistema que vem, ao longo das últimas décadas, só revalidando o rentismo e a especulação em detrimento da produção.
É inimaginável que consigamos construir um novo País apenas reeditando velhas fórmulas de remuneração do capital e sem, sequer, propor a produção que faça circular bens baseados em conhecimento da nova economia, onde apenas nos condicionamos a realizar a produção de commodities.
Mas esse debate, pelo tempo e pelo governante atuais, parece mesmo ser surreal enquanto vemos nosso País soçobrar diante de uma nova crise, esta patrocinada de “caso pensado”, mais uma vez, por quem já revelou não ter o menor apreço pelo cargo que ocupa e pelas responsabilidades dele advindas.
Nossa “casa” está dividida e mantê-la de pé será uma tarefa hercúlea.
Por isso, aposto na sabedoria do nosso povo para corrigir esse erro de percurso por meio das eleições deste ano.
Afinal, como diria Billy Blanco, “o que dá pra rir, da pra chorar. Questão só de peso e medida. Problema de hora e lugar. Mas tudo são coisas da vida. O que dá pra rir dá pra chorar”.
E vice-versa!
Roberto Claudio Rodrigues Bezerra foi por duas vezes (2013 a 2020) prefeito de Fortaleza (CE), cidade na qual é o presidente do Diretório Municipal do PDT. É médico sanitarista, com PhD em Saúde Pública pela Universidade do Arizona.
Conteúdo original publicado no site Congresso em Foco.
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