Pesquisa nacional realizada pelo Instituto Datafolha, entre os dias 13 e 15 e divulgada em 20 de setembro, indica que para 69% dos brasileiros, a economia piorou nos últimos meses. Esses são patamares de percepção pública da economia próximos aos que a população brasileira indicava ao final de 2015 e início de 2016, período exatamente anterior ao do impeachment imposto à presidente Dilma.
Na mesma rodada de pesquisas, certamente também pelo impacto dos pífios resultados da economia brasileira, o presidente Jair Bolsonaro atinge o seu mais alto índice de rejeição, chegando a 53% de ruim e péssimo na avaliação popular.
A retórica fanfarrona e já sem credibilidade do ministro Paulo Guedes – mesmo entre seus antigos apoiadores do mercado –além de uma agenda econômica equivocada e ineficiente no combate ao desemprego e na expansão da renda e a falta de percepção e o distanciamento do atual governo em relação aos efeitos da economia na vida concreta do povo são pecados que explicam a justa avaliação popular severamente negativa da economia brasileira. E o mais grave: faltam razões objetivas para alimentar qualquer tipo de otimismo.
Os efeitos práticos da crise econômica vivenciados pela maioria de nossa população são diversos e explicam os resultados apresentados pela pesquisa Datafolha: a estagnação da economia no último trimestre, o elevadíssimo e cruel nível de desemprego, o aumento crescente da informalidade, a precarização progressiva do sistema de proteção de direitos e garantias dos trabalhadores, o aumento da inflação que corrói o poder aquisitivo da já pequena renda dos brasileiros, o aumento da taxa de juros que agrava ainda mais o nível de endividamento das famílias e o dramático aumento da insegurança alimentar nos lares brasileiros.
Para completar, estamos na iminência de uma séria crise energética que poderia ter sido mitigada se o governo tivesse dado respostas eficientes e precoces na gestão da crise hídrica de algumas regiões brasileiras. Uma eventual falta de energia e o aumento da tarifa vai impactar ainda mais a produção industrial e, principalmente, a rotina e o custo de vida dos trabalhadores do país.
Uma outra dimensão importante é o da instabilidade política produzida deliberada e permanentemente pelo presidente e seus apoiadores mais fanáticos, com o claro propósito diversionista de um governo que não sabe governar e que, por isso mesmo, decide por não o fazer. Certamente que esse tipo de atitude oficial não passa impune. Fica a caricata impressão internacional de uma república imatura, com inseguranças jurídicas e de democracia frágil e recorrentemente acossada por arroubos autoritários e personalistas.
Essas incertezas e toda a instabilidade institucional produzida desestimula os investimentos privados, impacta o dólar e o custo de vida do povo, além das evidentes perdas nas relações comerciais com o mundo.
Mas, ao que parece, todas as evidências da piora significativa, quase desumana, em muitas dimensões na vida dos brasileiros nos últimos anos não têm sido suficientes para inspirar uma mudança de postura política ou de agenda econômica por parte do governo.
Persistem os equívocos de percepção ideológica sobre o potencial papel do Estado, em especial em momentos de grandes crises; a falta de disposição em aprimorar o modelo econômico ultrapassado, ineficiente para produzir crescimento e socialmente perverso; uma clara inexperiência e ignorância sobre a complexa gestão do setor público; um desconhecimento sobre o Brasil real e uma brutal ausência de sensibilidade social como motivadora para a tomada de decisões políticas e econômicas.
Estão aí os dados da pesquisa Datafolha para provar, nua e cruamente, o corte duro na carne da popularidade do atual governo. Isso é o que acontece quando falta disposição em governar, em tomar decisões corajosas e contra os lobbies tradicionais e concentradores de renda, contra privilégios e, muito especialmente, em garantir um papel ao Estado brasileiro que apoie e utilize os estímulos adequados para a economia brasileira florescer, criando cenários favoráveis a quem quer empreender e, principalmente, oportunidades novas de trabalho e de expansão da renda média do trabalhador brasileiro.
Me recordei da célebre frase atribuída ao marqueteiro político norte-americano James Carville: “É a economia, estúpido”. Frase supostamente útil à vitória do então candidato Bill Clinton, em 1992, na corrida pela presidência dos EUA. Carville defendia que a grande prioridade dos americanos era a crise econômica, os empregos, os salários, os preços altos e a dificuldade em comprar imóveis, muito mais que as disputas políticas em torno da Guerra do Golfo ou de outros temas sem maior relevância nacional que dividiam, simbólica e ideologicamente, democratas de republicanos. Tudo muito atual, agora em cena brasileira!
Roberto Claudio Rodrigues Bezerra foi por duas vezes (2013 a 2020) prefeito de Fortaleza (CE), cidade na qual é o presidente do Diretório Municipal do PDT. É médico sanitarista, com PhD em Saúde Pública pela Universidade do Arizona.
Conteúdo original publicado no site Congresso em Foco
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