As novas gerações, a partir do começo dos anos 2000, principalmente, entrou numa onda cada vez maior de brincadeiras digitais. Os videogames, com lançamentos de versões mais aprimoradas, incluindo elementos de realidade virtual nos jogos, viraram febre e conquistaram milhões de crianças, jovens e até adultos!
É inegável a qualidade dos jogos que prendem a atenção, desafiam o jogador a passar de fase e chegam mesmo a viciar porque dá mesmo vontade de seguir em frente até ‘finalizar’ o game (vencer todas as etapas dos jogos). Em seguida há uma outra satisfação, também digital: publicar nas redes sociais a conquista!
É uma mudança drástica no comportamento das crianças, que ficam, na maioria das vezes paralisados, durante muito tempo, diante da tela de TV, mexendo somente com os dedos e com o cérebro! E quais as consequências desses games no desenvolvimento das crianças?
Antes dos jogos digitais, as brincadeiras das crianças eram bem diferentes. Mais divertidas ou não, é difícil fazer essa comparação, mas que exigiam mais movimentos do corpo, mais entrega física, muitas vezes com risco de acidentes, é verdade; mais competição e mais suor, isso também é inegável.
Pra quem nunca viveu essa fase ou até já esqueceu, vamos lembrar algumas brincadeiras de antigamente: Esconde-esconde, pega-pega, adedonha, pular corda, bandeira, cabra-cega, amarelinha, soltar pião, bola de gude, carrinho de rolimã! Essa última aqui, além de construir o próprio carrinho que descia em alta velocidade por ladeiras asfaltadas, exigia que a molecada carregasse o brinquedo até o alto do morro para fazer uma nova descida na maior velocidade que fosse possível!
Certamente, essas e outras brincadeiras fizeram parte da infância de diversas pessoas hoje na faixa etária acima dos 30 anos pra frente. E, de novo, a pergunta: quais as consequências dessas brincadeiras no desenvolvimento das crianças?
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“Enquanto brincam, as crianças aprimoram as áreas sociais, motoras, de planejamento, de memória, de autocontrole”…
EMANUELLA QUEIROZ, psicopedagoga
A psicopedagoga Emanuella Queiroz avalia que o que pode parecer apenas coisa de criança traz consigo inúmeras oportunidades para o desenvolvimento infantil. É durante a brincadeira que a criança aprimora habilidades. “Brincar é importante porque é um recurso facilitador para a aprendizagem. Enquanto brincam, as crianças aprimoram as áreas sociais, motoras, de planejamento, de memória, de autocontrole, entre outras. Inclusive, estudos apontam que o ato de brincar aumenta o número de ligações entre os neurônios e possibilita a aquisição de novas habilidades”, afirma.
Ainda de acordo com a psicopedagoga, jogos como o quebra-cabeça, por exemplo, trabalham a percepção visual, planejamento, raciocínio-lógico e concentração. E essas habilidades sempre são úteis em um ambiente de trabalho profissional.
“Outra brincadeira bastante comum é montar blocos. Com ela, é possível auxiliar a coordenação motora fina (das mãos), na tolerância à frustração (quando a criança tenta e não consegue realizar o encaixe), concentração, foco, planejamento e persistência (quando a criança tenta de maneiras diferentes realizar um encaixe)”, comenta.
Além disso, aquele famoso ‘cadê a mamãe’, no esconde-esconde, ajuda os bebês na fase da angústia da separação porque ele vai começar a perceber que a mãe desaparece, mas volta a aparecer. E brincar de massinha, pintar e rasgar papel, por exemplo, auxiliam na habilidade motora de escrever, uma vez que vai trabalhar o tônus muscular, a pega do lápis e outras habilidades.
Emanuella destaca ainda a importância de deixar a imaginação fluir a partir do uso de brinquedos não estruturados, ou seja, aqueles objetos que não têm uma finalidade específica de brincadeira. “Podem ser oferecidos materiais da natureza, objetos do cotidiano, utensílios de cozinha (peneira, panela), caixas de papelão, bucha vegetal e outros materiais. Dessa forma, os brinquedos não estruturados possibilitam que a criança explore, teste e crie novas possibilidades, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo”.
Vale ressaltar também que a criança leva o que aprende na brincadeira para as situações reais da vida e vice-versa. “Sabe aquele momento em que a criança se depara com uma questão da escola e que não está sabendo resolver? Quando ela está acostumada a explorar e a criar, ela vai primeiro buscar novas soluções para a questão e não vai desistir diante a primeira dificuldade. Porém, ela aprendeu isso na brincadeira, de maneira simbólica. E agora, ela transfere para a realidade os seus ensinamentos”, finaliza a psicopedagoga.
Emanuella Queiroz lista algumas brincadeiras que podem ser feitas em família:
Em nenhum momento essa reportagem teve o objetivo de confrontar ou decidir pelos pais de hoje, que viveram as brincadeiras de antigamente, qual é a melhor brincadeira para os filhos. A intenção é de fato fazer com que as pessoas reflitam sobre as questões levantadas acima nesse mês de outubro, que é dedicado também às crianças.
As brincadeiras indicadas pela psicopedagoga Emanuella Queiroz estimulam uma convivência familiar, que depois, com o crescimento da criança, pode se dar com os amigos da escola, da família, da igreja ou mesmo da vizinhança, muito embora, em muitos bairros das grandes cidades, os pais preferem manter os filhos em casa, literalmente trancados, pelo medo da violência das ruas, seja por ações humanas violentas ou pelo risco de um acidente, um atropelamento, por exemplo.
Mas é possível sim ter os dois tipos de brincadeira: as mais antigas, “analógicas”, e as digitais. Mas pra todas elas e, como tudo na vida, é preciso ter limite.
*Essa reportagem foi editada pelo jornalista Hermann Hesse, no dia 9 de outubro de 2021, aos 50 anos de idade. É pai do Hermano (22 anos), do Helano (20 anos) e da Hélade (13 anos).
*A pauta foi sugerida pela leitora Anny Bucholz. Caso queira contribuir com o Portal Terra da Luz, envie a sua sugestão para o e-mail: portalterradaluz@gmail.com
*O material de apoio foi enviado pela assessoria de imprensa da psicopedagoga Emanuella Queiroz, feito pela jornalista Priscila Macêdo.