A técnica de enfermagem Angelita Cristiane Freitas de Assis é a 262ª vítima identificada do desastre da Vale em Brumadinho, Minas Gerais, ocorrido no dia 25 de janeiro de 2019, após o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, que armazenava uma grande quantidade de rejeitos de minério de ferro. Angelita Cristiane era funcionária da mineradora. No dia da tragédia tinha 37 anos e deixou o marido e dois filhos.
Os restos mortais da técnica de enfermagem foram encontrados no dia 5 de agosto. Devido ao tempo que se passou desde a tragédia, as condições em que os corpos são encontradas nem sempre possibilitam um reconhecimento célere. O processo de identificação, conduzido pelo setor de Antropologia Forense do Instituto Médico Legal (IML) vinculado à Polícia Civil de Minas Gerais, foi concluído na quarta-feira (6/10)
Segundo nota divulgada pela Polícia Civil, foram realizadas inúmeras repetições do exame de DNA e contraprovas para se obter um laudo conclusivo. “Os procedimentos para a identificação envolveram três fases principais: a perícia no local do encontro do segmento; as análises no IML, para estimativa da idade, sexo e ancestralidade da vítima; e, por fim, os exames de DNA, conduzidos pela equipe do Instituto de Criminalística”, acrescenta o texto.
Passados mais de dois anos e oito meses do rompimento da barragem de Brumadinho, ainda faltam encontrar os corpos de oito vítimas. Os bombeiros prosseguem com as buscas e, no último sábado (2/10), localizaram mais um corpo. Ainda não se sabe, no entanto, se ele pertence a alguma das oito vítimas ainda não localizadas.
“Todos os métodos para identificação estão sendo empregados”, informa a Polícia Civil. Para facilitar o trabalho e torná-lo mais eficiente, foi construído um banco de dados sobre os desaparecidos, com base em entrevistas com familiares, histórico de exames clínicos e outras informações.
O Corpo de Bombeiros destacou a parceria com a Polícia Civil. “No mês em que se completam mil dias de empenho, a maior operação de busca e salvamento do mundo ultrapassa também um novo patamar: 97% das vítimas já foram localizadas e identificadas. Graças à sinergia do trabalho ininterrupto e estratégico dos órgãos de segurança pública comprometidos com a dignidade e respeito aos envolvidos na tragédia, mais uma família enlutada pode ter um pouco de sua tristeza diminuída”, informou em nota.
Devido às restrições decorrentes da pandemia da covid-19, os trabalhos dos bombeiros chegaram a ser interrompidos duas vezes. A primeira paralisação ocorreu de março a agosto do ano passado. Posteriormente, em 17 de março deste ano, houve uma nova suspensão. A retomada ocorreu no dia 12 de maio e, desde então, as buscas prosseguem sem novas paralisações.
Os esforços são acompanhados de perto pela Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos do Rompimento da Barragem da Mina Córrego do Feijão (Avabrum), criada pelos familiares dos mortos na tragédia. Em todos os meses, no dia 25, é promovido um encontro em frente letreiro de Brumadinho, na entrada da cidade. A entidade contabiliza 272 mortes na tragédia porque inclui na conta os bebês de duas vítimas que estavam grávidas.
Na última segunda-feira (4/10), o Ministério Público Federal (MPF) divulgou o relatório final de um estudo conduzido pela Universidade Politécnica da Catalunha, que associa a perfuração em um ponto crítico da barragem da Mina Córrego do Feijão à tragédia ocorrida em janeiro de 2019. Segundo o estudo, a perfuração estava sendo realizado no momento da ruptura e foi considerado o potencial gatilho da liquefação, processo em que os sedimentos sólidos passam a se comportar como fluídos e sobrecarregam a estrutura.
De acordo com o estudo, o perfil do solo no local da perfuração era especialmente desfavorável. Os modelos que sugerem o procedimento como responsável por desencadear o rompimento mostraram-se consistentes com as imagens captadas no momento da tragédia. “O mecanismo de colapso obtido mostra uma ruptura dentro da barragem começando na crista e se estendendo até um local logo acima do dique de partida.” Veja imagens do rompimento da barragem:
Investigações sobre a tragédia foram feitas em diversas frentes. Comissões parlamentares de inquérito (CPIs) foram abertas no Senado, na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. A Polícia Civil também realizou um inquérito que serviu de base para a denúncia do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), aceita pela Justiça em fevereiro de 2020. Por meio dela, 16 pessoas tornaram-se rés – 11 funcionários da Vale e cinco da Tüv Süd, empresa alemã que assinou a declaração de estabilidade da barragem.
Os 16 reús respondem por homicídio doloso e diferentes crimes ambientais. Mesmo sem elucidar qual foi o gatilho da liquefação, o Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG) ofereceu denúncia à Justiça por considerar que já existia farto material probatório capaz de identificar responsabilidades e omissões por parte da Vale e da Tüv Süd.
No fim do mês passado, foi aberto prazo para que os réus apresentem suas defesas. Como a denúncia é extensa, a juíza Renata Nascimento Borges deu a eles 90 dias.
Dois anos e oito meses após a tragédia, que além de gerar impactos ambientais e socioeconômicos em diversas cidades, e a morte de 270 pessoas, ainda não foram encontrados os restos mortais de oito vítimas. No mês passado, foi encontrado o corpo de Juliana Creizimar de Resende Silva, que tinha 33 anos quando perdeu a vida. O reconhecimento se deu pela arcada dentária.
Com informações da Agência Brasil
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