Uma nova fase da operação ‘Hasta’, realizada pela Polícia Civil do Ceará na manhã desta quinta-feira (21/10), resultou nas prisões de sete acusados de integrar um esquema milionário de corrupção na Prefeitura de Itatira, na região Norte do Ceará. Entre os presos estariam Paulo Anderson Alves Mota, filho do vereador da cidade, Paulo Ruberto; Antônio Jonas Martins Mateus e Francisco Jakson Martins Mateus, filhos do prefeito de Município, Zé Dival, reeleito para mais quatro anos de mandato, em 2020. Eles são os principais alvos principais da investigação conduzida pelos policiais da Delegacia Geral (DG), Departamento de Recuperação de Ativos (DRA) e Delegacia de Combate à Corrupção (DECOR).
Os agentes também cumpriram outros sete mandados de prisão preventiva, que foram decretados em desfavor de Barbara Milena Morais, Breno Medeiros da Cruz, Antonio Tiago Martins Mariano, Nataniely Cardozo da Silva, Jabes Pereira Sampaio, Jadilson Andre da Silva e Helena Mara dos Santos Amorim. Dos sete quatro foram presos, mas a Polícia Civil ainda não confirmou os nomes dos presos. O grupo criminoso também teve bens bloqueados pela Justiça.
Itatira é um dos municípios do Ceará com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixo do Ceará, enquanto que o grupo criminoso teria desviado mais de 132 milhões de reais dos cofres municipais. O volume de negócios movimento por meio de licitações fraudulentas assustou até os delegados da operação:
“Itatira transformou-se em uma grande festa, mas esqueceram de convidar a população para participar.”
Os casos de corrupção em Itatira, a 215 quilômetros de Fortaleza, ganharam visibilidade a partir de uma denúncia apresentada pelo telejornal Ceará no Ar, da TV Cidade, em novembro de 2020. A jornalista Adriana Dias teve acesso a um relatório final de um inquérito da Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF), que apontou indícios de uma fraude, que na época já somava R$ 22 milhões, na contratação da Empresa Rota Ativa Locações e Serviços de Veículos Ltda, com sede em Pacatuba, na região Metropolitana de Fortaleza.
O autor da denúncia foi o servidor público Isaac Facundo Carneiro, que mesmo aposentado continuava trabalhando. “Lá na secretaria do município tem muitas denúncias a respeito das empresas, já. Só que em uma inspeção da Câmara Municipal, tomei conhecimento que essa mesma empresa (Rota Ativa) tinha a locação de um veículo com a Câmara Municipal de Itatira e esse veículo não existia, mas a empresa continuava recebendo o valor”, afirmou à reportagem.
A denúncia do servidor aposentado foi suficiente para abrir o inquérito policial, que descobriu outras irregularidades graves. A Rota Ativa estava registrada em nome de Felipe Robson Prado da Silva, que morreu num acidente de carro no dia 4 de maio de 2020. Dois dias depois da morte de Felipe, no dia 6 de maio, o certificado digital da vítima do acidente foi usado para realizar a transferência da empresa para o nome de Bárbara Milena Morais. Ela teria pago R$ 1,3 milhão para fazer a transferência. Ocorre que, segundo as investigações, no dia da compra da empresa, Barbara Milena Morais era beneficiária do auxílio emergencial de 600 reais do Governo Federal./
O advogado Thiago Guedes acompanha as investigações sobre as denúncias de corrupção em Itatira desde o início e presenciou o depoimento de Barbara Morais à polícia. “Ela confessou na Delegacia de Defraudações que não deu esse dinheiro para a aquisição da empresa, bem como o próprio contador, o Senhor Jadilson (André da Silva, técnico em contabilidade), confessou que se utilizou do certificado digital do Felipe Robson pra fazer essa transferência da titularidade da empresa.
Com o aprofundamento das investigações, a polícia chegou ao nome de Antônio Jonas Martins Mateus, ex-secretário de finanças de Itatira e filho do prefeito de Itatira, Zé Dival. Segundo a denúncia, ele seria o real proprietário da empresa Rota Ativa. Em um áudio gravado pelo pai de Felipe Robson da Silva, ex-dono da Rota Ativa, que morreu no acidente de carro, em maio de 2020, ele revela que Felipe seria apenas um “laranja usado” para acobertar os negócios ilegais do real proprietário. Ouça:
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Descrição do áudio:
"Eu não tenho nada. Tudo é dele (Jonas Mateus). Ele tá usando o meu nome pra ganhar dinheiro. Como eu também tô aceitando pra ganhar a minha comissão. Eu sou... ele dizendo... um empresário, mas sem ter nada. Eu tô só com o nome lá"!
No relatório final da investigação, o delegado de Defraudações e Falsificações, Jaime de Paula Pessoa, indiciou Bárbara Milena Morais e o técnico de contabilidade Jadilson André da Silva, que seria o responsável pela transferência de titularidade da Rota Ativa Serviços e Locações de Veículos, pelos crimes de falsidade ideológica e falsa identidade.
Confira reportagem da TV Cidade sobre o esquema de corrupção em Itatira apresentada em novembro de 2020:
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