Spotter, em tradução literal, significa observador ou olheiro. Na aviação, o termo ganhou uma variação: plane spotter, ou observador de aviões. Os spotters podem tanto observar a movimentação das aeronaves quanto registrar por fotografias ou vídeo as operações que envolvem a aviação.
O termo surgiu na Segunda Guerra Mundial, quando alguns países que sofriam ataques de bombardeiros alemães começaram a encarregar cidadãos para observarem a movimentação de aeronaves, lançando um alerta no caso de aproximação de bombardeiros.
Terminada a guerra, os amantes desse tipo de fotografia se espalharam pelo mundo. Aqui no Brasil, esses fotógrafos ficaram conhecidos como Spotters.
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Eles estão sempre por perto do Terminal de Passageiros do Aeroporto Internacional de Fortaleza – Pinto Martins. Como o mirante do terminal de passageiros foi fechado no ano de 2018, resta aos fotógrafos buscar algum local no perímetro da pista que ofereça uma boa visão da pista de pouso e decolagens.
Leonardo Mello, 25 anos, é assistente administrativo da Universidade Federal do Ceará (UFC) e começou a frequentar o aeroporto de Fortaleza para fotografar aviões no ano de 2008. “Eu tinha 12 anos e já era fã de aviação há um bom tempo. Sempre costumava ver sites na Internet com fotos de aviões, e inclusive via fotos daqui de Fortaleza. Então surgiu em mim a vontade de ter meus próprios registros”, relembra.
Leonardo conta que na época usava uma câmera compacta, com pouca qualidade, mas mesmo assim decidiu ir ao aeroporto e começar a fotografar. “A partir de 2009, ganhei um equipamento melhor (câmera DSLR) e pude fotografar com mais qualidade. Consequentemente, passei a frequentar mais o aeroporto”.
Os primeiros entusiastas teriam surgido no final dos anos 1980. Com a popularização do Instagram, a partir de meados de 2015, uma grande leva de apaixonados por aviação surgiu aqui em Fortaleza. “Eu diria que temos uma comunidade relativamente numerosa de entusiastas aqui. Existem amigos que decidem fotografar juntos e compartilham as fotos”, afirma Leonardo.
A paixão do servidor Leonardo Mello pelos aviões é tão grande que ele passou a colecionar miniaturas de vários modelos. “Passei a colecionar miniaturas a partir de 2007. Não são brinquedos, são réplicas destinadas a colecionadores com alto nível de detalhes. Comecei com miniaturas na escala 1:500, mas desde o ano passado passei a colecionar na escala 1:400, que tem modelos um pouco maiores”, esclarece.
E para dar um pouco mais de vida à coleção, Leonardo decidiu construir em casa uma maquete de aeroporto. “É aeroporto fictício, não é réplica de nenhum real. Foi feita de forma artesanal, embora muitos dos itens tenham sido comprados na Internet”, destaca.
(Maquete | Foto: arquivo pessoal Leonardo Mello)
Nem só de alegria vive um Spotter . Há momentos que são bastante desafiadores. “Não é nada fácil. Requer muita coordenação e boa relação com o pessoal do aeroporto. Autoridades, como a Polícia Federal e a ANAC, não costumam ver com bons olhos (a atividade). A maioria esmagadora das fotos é feita nos arredores do aeroporto, em locais lícitos e abertos ao público, e que não interferem nas atividades do aeroporto”, afirma Leonardo Mello.
O Spotter cearense também relata duas situações que merecem atenção de quem quer curtir esse hobby: os aviões raros, na maioria das vezes, aparecem de surpresa, como os voos “alternados”, que costumam pousar no nosso aeroporto de forma não-programada, principalmente, por conta de emergências. “São aeronaves que chegam sem aviso. Grande parte dos voos entre Europa e América do Sul sobrevoa o Ceará durante a madrugada, pois os voos chegam cedinho a Guarulhos, Buenos Aires, Santiago, etc. E são aviões grandes, de companhias famosas europeias, que raramente veríamos em Fortaleza. Quando há alguma emergência a bordo, muitas vezes Fortaleza recebe esses voos. Como são aviões raros aqui, são justamente motivos excelentes para irmos fotografar”.
Há também os aviões que não cumprem a programação: “Vamos ao aeroporto e o avião não aparece, o voo é cancelado! Além de problemas de comunicação/coordenação que acabam por impedir nossos acessos”.
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Mas a maior dificuldade enfrentada pelos Spotters é o acesso limitado aos pontos de observação das pistas dos aeroportos. Há sempre seguranças para barrar a presença de pessoas em algum locais de acesso restrito. Nesses locais, normalmente, só entram passageiros em trânsito para aeronaves que não estão conectadas diretamente ao terminal, os funcionários do próprio terminal de passageiros, forças de segurança e fiscalização e trabalhadores credenciados das companhias aéreas.
Por isso, qualquer chance de entrar na pista e chegar perto dos aviões, em eventos conhecidos como Spotter Day , são bem disputados pelos aficionados pelo hobby. Aliás, encontramos o personagem principal da nossa reportagem, Leonardo Mello, numa postagem do Instagram do Vou – Praça Fortaleza. Ele é um dos Spotters que disputam a chance de fotografar o voo inaugural da companhia aérea Itapemirim ao Ceará. A data do pouso está prevista para a madrugada do dia 2 de agosto. Leonardo Mello disputa com outros amantes da fotografia de aviões a chance de fotografar o avião de perto.
O resultado do concurso deve sair nos próximos dias, mas independente do que acontecer, a resposta para a última pergunta da nossa entrevista era muito previsível. Perguntado onde ele estaria na madrugada do dia 2 de agosto de 2021, caso não fosse selecionado na votação popular do concurso, Leonardo respondeu: “No aeroporto, fotografando a chegada do primeiro voo da Itapemirim em Fortaleza”.