Diversificar a matriz energética pode elevar não apenas o nível de competitividade econômica do Estado do Ceará, mas também assegurar um futuro mais sustentável. Com esse propósito, a Companhia de Gás Natural do Ceará (Cegás) investe na distribuição de biometano (Gás Natural Renovável) para fortalecer o desenvolvimento regional, ao mesmo tempo que oferece uma alternativa de energia mais limpa aos cearenses.
O biometano deriva do processo de limpeza e purificação do biogás, uma fonte de energia renovável gerada a partir da decomposição da matéria orgânica proveniente de propriedades rurais, lodos de esgoto, lixo doméstico e afluentes industriais. O biometano, portanto, é um combustível limpo que pode ser utilizado para uso doméstico, industrial ou veicular, substituindo os combustíveis fósseis.
O presidente da Cegás, Hugo Figueirêdo, explica que a ideia do projeto de distribuição de biometano surgiu, ainda em 2014, quando a instituição recebeu uma demanda de empreendedores cearenses. Segundo ele, foi sugerido a utilização de resíduos sólidos do Aterro Sanitário Municipal Oeste de Caucaia (ASMOC), localizado na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
“Diante da proposta desse grupo de empreendedores, a Cegás começou a avaliar essa possibilidade e, no fim de 2014, assinou um contrato que garantia a aquisição de toda a produção de Gás Renovável produzida no Aterro Sanitário Municipal Oeste de Caucaia. Nesse sentido, foi dado início ao projeto, com a Cegás garantindo a compra. [O projeto] Já partiu com a produção toda vendida, dando segurança para o empreendedor avançar com o projeto”, conta.
Com o avanço das tratativas, iniciou-se, em 2017, a fase pré-operacional. Para isso, a Parceria Público-Privada entre Cegás, Prefeitura de Fortaleza e a Gás Natural Renovável Fortaleza, usina dos grupos Marquise Ambiental e Ecometano, viabilizou o Gasoduto, que tem 23 km, a Estação de Transferência e da Planta de Produção de GNR. Os empreendimentos possibilitam a entrega do biogás para indústrias, veículos, comércio e residências da rede de clientes da Cegás. O projeto do Gasoduto está adequado à Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada e sancionada em 2010, e à Política Estadual de Resíduos Sólidos do Ceará, de 2016.
Hugo Figueirêdo esclarece que o pioneirismo do projeto destaca-se pela antecipação diante da ausência de regulamentação para o setor. “Na ocasião, não havia ainda uma regulação nacional nem tampouco estadual, que permitisse que o Gás Natural Renovável fosse entregue aos consumidores. Então, foi feito um esforço muito grande para que fosse criado esse arcabouço regulamentar tanto em nível nacional pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, como também com a Agência Reguladora do Estado do Ceará, para que fosse possibilitada essa injeção de Gás Natural Renovável”, justifica.
Ainda de acordo com o presidente, o Governo do Ceará também esteve atento aos incentivos para potencializar esse projeto inovador. “O Estado do Ceará, por meio da Secretaria da Fazenda, concedeu incentivo fiscal ao produtor de tal forma que o preço do GNR entregue à Cegás fosse equivalente ao preço do gás convencional”, diz Figueirêdo.
Além de pioneirismo e incentivo, outra palavra que caracteriza o sucesso da experiência é parceria. “Temos que ressaltar também a parceria com o grande consumidor local que foi a Cerbras [indústria do setor de cerâmicas], em Maracanaú, que aceitou, no início do projeto, receber todo esse gás tratado na usina instalada no aterro de Caucaia. Isso deu uma segurança maior ao projeto, porque, na ocasião, a regulação ainda não estava posta, e era possível fornecer o gás para apenas um cliente que tivesse interesse, mas não para todos, misturando o GNR com o gás convencional na rede”, explica.
A regulação nacional para o setor foi criada em 2017, especificando as características que o GNR precisa ter para ser distribuído na rede das distribuidoras.
Em maio de 2018, a Cegás tornou-se a primeira distribuidora do Brasil a injetar em sua rede de gasodutos o GNR, destinando, inicialmente, toda a produção à Cerbras. Também em 2018, a Cegás e a GNR Fortaleza assinaram um contrato para ampliar a oferta de GNR em 20%. Pelo contrato, a GNR Fortaleza se comprometeu a aumentar sua produção 75 mil metros cúbicos para 90 mil metros cúbicos diários.
“Foi a primeira e continuamos a única. Outras distribuidoras, naturalmente, agora estão se organizando para avançar nesse sentido. Hoje, cerca de 15% do consumo de gás dos nossos clientes automotivos, residenciais, industriais e comerciais é de Gás Natural Renovável. Esse percentual é um dos maiores do mundo”, ressalta Hugo Figueirêdo.
Em 2020, o consumo de GNR no Ceará ultrapassou 50%. “Na época da pandemia, claro que o consumo diminui, e nós optamos por reduzir a compra do gás convencional, mas mantivemos a compra de toda a produção do gás do aterro. Em determinado momento, esse GNR chegou a representar mais de 50% da nossa entrega a esses consumidores ex-Térmicos”, complementa.
Para sensibilizar mais clientes em prol da sustentabilidade, a empresa promove o Selo Verde. A iniciativa tem o intuito de distinguir os clientes da Cegás como usuários de um tipo de energia mais limpa, inovadora e eficiente.
O processo de produção de biometano ocorre a partir da separação de dióxido de carbono (CO2) do metano e da remoção de contaminantes. Para a retirada de metano, foram instaladas tubulações que fazem a sucção de todo o metano da superfície do aterro.
Além da geração de energia, esse processo também evita que mais de 610 toneladas de CO2 sejam lançadas na atmosfera anualmente, equivalentes à retirada diária de mais de 800 mil litros de diesel do setor de transportes. Isso contribui para minimizar a emissão de gases de efeito estufa, contribuindo positivamente para a mobilidade sustentável e o futuro do nosso planeta.
Para o presidente da Cegás, o Estado do Ceará tem potencial para o aproveitamento de biogás em diversas regiões, com escalas e modelos de negócios distintos a serem explorados com segurança, principalmente em populosas cidades com aterros sanitários, como Sobral e Limoeiro do Norte, além da Região do Cariri. “Nós estamos em um processo de discussão com parceiros para elaboração de um Atlas do Gás Renovável no Ceará, que vai avaliar o potencial de produção de GNR em todo o Estado, inclusive o biometano a partir de várias fontes. Além do biogás do aterro, nós temos a possibilidade de usar o biogás produzido a partir do lodo de esgoto de estações de tratamento. Estamos em conversas para avançar nesse sentido. Há possibilidade de adquirirmos Gás Renovável a partir de resíduos agropecuários”, adianta.
A experiência exitosa com o biometano pode contribuir para o desenvolvimento de outra iniciativa pioneira capitaneada pelo Governo do Ceará, o Hub de Hidrogênio Verde. “Dialoga completamente com essa nova frente de sustentabilidade, que é o hidrogênio verde, que está incluído no Atlas do Gás Renovável. Toda a nossa experiência que tivemos em colocar o GNR [biometano] na rede, podemos aproveitar e replicar essa experiência do ponto de vista regulatório, operacional e fiscal, a fim de transferir para o hidrogênio verde. As etapas para que se possa chegar ao consumidor final são semelhantes. Neste momento, nós estamos discutindo com parceiros que têm nos procurado para avançar com projetos-pilotos de distribuição de hidrogênio verde, seja 100% entregue a determinado cliente, seja injetado na rede”, conclui Hugo Figueirêdo.
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