Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
O aumento global do custo do cacau, que acumulou alta de cerca de 180% em dois anos, tem impactado diretamente os preços dos produtos de chocolate, tanto para a Páscoa quanto para a produção regular do setor. O aumento mais expressivo ocorreu no segundo semestre de 2024, devido à quebra de safra em importantes produtores africanos.
A instabilidade deve continuar ao longo deste ano, especialmente na Costa do Marfim, maior produtor mundial, que ainda sofre com os impactos da seca e das ondas de calor. Segundo Letícia Barony, assessora técnica da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), essa condição climática compromete a brotação e a formação dos frutos, reduzindo a oferta global.
Em contrapartida, Gana, segundo maior produtor, apresenta sinais de recuperação na safra, o que pode trazer um reequilíbrio ao mercado. No Brasil, sexto maior produtor mundial, a expectativa é de aumento na produção após quedas consecutivas, com destaque para os estados do Pará e da Bahia, responsáveis por mais de 90% da produção nacional.
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A alta no custo do cacau resultou em uma retração de aproximadamente 20% na produção de ovos de Páscoa em relação ao ano passado, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab). Apesar da queda, o setor prevê a contratação de mais de 9,6 mil trabalhadores temporários, um aumento de 26% em relação a 2024, com expectativa de efetivação de 20% desse contingente.
Os preços dos produtos de chocolate também subiram. De acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), ovos de Páscoa e bombons registraram aumento médio de 14%, enquanto as colombas pascais ficaram 5% mais caras.
Diante dos desafios, pequenos produtores de chocolate têm adotado estratégias para mitigar os impactos da alta do cacau. A chef Dayane Cristin, de Osasco (SP), intensificou a pesquisa de fornecedores e está diversificando sua produção. Vendendo trufas em transportes públicos, ela relata que precisou ajustar os preços e otimizar suas compras.
“O preço do chocolate tem aumentado, e em alguns lugares há escassez de produtos como o chocolate branco. Para driblar isso, compro em grande quantidade e consigo um valor menor”, explica Dayane. Com a Páscoa chegando, sua meta de faturamento está entre R$ 15 e R$ 20 mil.
A CNA destaca que investimentos em tecnologia têm impulsionado a produtividade no setor cacaueiro, melhorando processos como fermentação e armazenagem. Além disso, novas regiões produtoras estão sendo exploradas, como o cerrado baiano e o norte de Minas Gerais.
No âmbito internacional, o Brasil tem estreitado laços com os principais produtores africanos. Recentemente, a ApexBrasil participou de uma missão na Costa do Marfim, Gana e Nigéria, firmando acordos para compartilhar tecnologia e impulsionar a produção.
Apesar dos desafios, especialistas avaliam que a modernização da cadeia produtiva pode contribuir para estabilizar os preços no longo prazo, beneficiando tanto o mercado interno quanto as exportações.
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