A sonda espacial BepiColombo enviou as primeiras imagens de Mercúrio, o planeta mais perto do sol, nesse sábado (2/10). A primeira foto foi registrada às 19h34, pela câmera 2, durante um sobrevoo ao redor do pequeno planeta, o menor do Sistema Solar, a uma altitude de apenas 200 quilômetros. Há também registros feitos pela câmera 3 da sonda. Ainda são fotos simples, em baixa resolução, em preto e branco, tiradas por câmeras de monitoramento, ou de engenharia, na lateral da sonda. É como se fossem “câmeras de selfie”, mas boas o suficiente para já detectar algumas características da superfície do planeta vermelho.
A sonda BepiColombo foi construída por duas agências espaciais. A primeira parte foi desenvolvida pela Agência Espacial Europeia (ESA) e a segunda pela Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (Jaxa). A forma como os dois componentes foram montados para a viagem à Mercúrio não permite, por enquanto, que as câmeras fotográficas principais, de alta resolução e científicas, operem. Elas só devem ficar prontas para utilização quando os controladores conseguirem reduzir a velocidade da espaçonave usando, inclusive, a força da gravidade de Mercúrio para que a sonda assuma uma órbita estável ao redor do planeta.
A expectativa é de que a ESA libere novas imagens ao longo dos primeiros dias de outubro. Na segunda-feira (4/10), é provável que a agência europeia tenha imagens suficientes para fazer um pequeno vídeo.
Apenas com apenas alguns dos instrumentos ligados, a BepiColombo já conseguiu detectar fenômenos como campos magnéticos e partículas que serão analisadas aqui na Terra pelos pesquisadores do projeto. Suzie Imber, pesquisadora da Universidade de Leicester, no Reino Unido, disse que “o objetivo do sobrevoo atual, e dos outros que serão realizados, é nos ajudar a mudar a trajetória [da espaçonave] e diminuir a velocidade.”
Para os cientistas por trás do Espectrômetro de Raios-X Mercury Imaging, ou MIXS na sigla em inglês, do Reino Unido, essa foi uma oportunidade de entender melhor o desempenho dos instrumentos embarcados na espaçonave. Os detectores do MIXS captaram um ruído geral de partículas energéticas conhecidas como raios cósmicos. “À medida que nos aproximamos muito de Mercúrio e parte do céu está bloqueado pelo planeta, devemos ter uma queda em parte desse ruído que recebemos, e isso nos ajudará a identificar melhor o que são esses raios cósmicos galácticos que detectamos”, explicou Imber.
O exercício irá garantir que a equipe da missão obtenha o máximo do MIXS quando, eventualmente, começar a observar o planeta no final da década. “Eventualmente, até dezembro de 2025, tanto a espaçonave quanto Mercúrio estarão no mesmo lugar e na mesma direção. A partir daí, finalmente, poderemos separar nossa espaçonave em duas partes e entrar em órbita”, disse a cientista que integra a missão.
Os pesquisadores analisam que o primeiro sobrevoo da BepiColombo colocaou a sonda em uma ressonância de 2-3 com Mercúrio. Traduzindo, isso significa que Mercúrio dará três voltas em torno do Sol, enquanto a Bepi dará duas. Importante lembrar que devido à proximidade maior em relação ao sol, um ano de Mercúrio, ou o tempo que ele leva para dar uma volta completa em torno do Sol, é o equivalente a 88 dias na Terra.
O próximo sobrevoo, marcado para junho do ano que vem, vai desacelerar a velocidade da espaçonave para que ela numa ressonância de 3-4: a Bepi vai completar três voltas ao redor do Sol, enquanto Mercúrio fará essa trajetória quatro vezes. Os demais sobrevoos, que ocorrerão em junho de 2023, setembro de 2024, dezembro de 2024 e janeiro de 2025, devem colocar a Bepi finalmente na mesma ressonância de Mercúrio. Assim, será possível iniciar as operações científicas completas a partir de 2026.
As duas estruturas da espaçonave desenvolvidas por europeus e japoneses vão se separar quando entrarem na órbita de Mercúrio para desempenhar funções diferentes.
O Mercury Planetary Orbiter (MPO), da Europa, foi projetado para mapear o terreno de Mercúrio, gerar perfis de altura da superfície, coletar dados sobre a estrutura e a composição do planeta e detectar o que há no interior dele. Já o Mercury Magnetospheric Orbiter (MMO), do Japão, tem como prioridade o estudo do campo magnético de Mercúrio. O comportamento do campo e a interação com o “vento solar”, que interage com a atmosfera de Mercúrio, lançando átomos em uma cauda que se estende pelo espaço, e a massa ondulante de partículas que fluem do Sol estão entre os objetivos da missão japonesa.
Espera-se que as observações paralelas dos satélites possam finalmente resolver os muitos quebra-cabeças sobre o planeta vermelho. Uma das principais questões diz respeito ao núcleo de ferro superdimensionado, que representa 60% da massa de Mercúrio. A ciência ainda não consegue explicar os motivos que fazem este planeta ter apenas uma fina camada rochosa.
“Quando entrarmos em órbita, começaremos a estudar o campo magnético e a superfície de Mercúrio, que alcança temperaturas de até 450 °C (o equivalente a um forno de pizza), e ainda tem água na superfície em alguns lugares”, contou Mark McCaughrean, consultor sênior da ESA para ciência e exploração, à BBC News.
“Mercúrio possui um enorme núcleo de metal. Ele é muito mais denso do que o esperado para o seu tamanho. Nós simplesmente não entendemos como esse planeta ficou do jeito que é. Existem enormes mistérios sobre a origem dele e é isso que a BepiColombo pretende estudar”, completa o pesquisador.
O MPO, da Europa, foi montado em grande parte no Reino Unido, pela empresa Airbus.
Com informações da BBC News
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