O critério que estabelece a população negra é definido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) | Foto: Kid Jr/Diário do Nordeste
Além de compreender a legislação, ser agente de segurança pública é entender as particularidades de cada indivíduo para garantir o acolhimento humanizado às pessoas pretas e pardas em situação de vulnerabilidade. No Ceará, o olhar atento à diversidade racial está presente desde o processo seletivo, por meio da Lei Estadual nº 17.432, assinada pelo governador Camilo Santana, que garante 20% das vagas em concursos públicos estaduais para a população negra, até a formação inicial e continuada dos aprovados, por meio da Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará (Aesp), órgão vinculado à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS/CE).
Em 2021, foram realizados certames para a Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), Polícia Civil do Estado, e, mais recentemente, para a Polícia Militar do Ceará (PMCE). Do total de 2.670 vagas, 634 são destinadas às pessoas negras, que representam pretos e pardos. O critério é definido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para Zelma Madeira, da Assessoria Especial de Acolhimento aos Movimentos Sociais do Governo do Ceará, a inclusão de cotas para a seleção de profissionais das Forças de Segurança e a formação dos profissionais é essencial para desnaturalizar o racismo. Ela destacou sobre o racismo estrutural que é resultado de um passado escravocrata.
“É muito importante que na matriz pedagógica, esse tema da questão racial seja tratado. Vi, que na matriz pedagógica dos cursos de formação [da Aesp], o tema está contido dentro da disciplina de Direitos Humanos, trazendo a importância sobre o que é o racismo e a necessidade de falar sobre racismo estrutural e institucional. A presença do racismo é danosa nos campos das instituições”, detalha Zelma.
A assessora, Zelma Madeira, já participou de formações destinadas aos profissionais da Segurança Pública e celebra a inclusão do debate sobre herança da escravidão, mestiçagem e desigualdade racial na formação dos policiais civis, militares e bombeiros cearenses. Ela explicou a importância da discussão antirracista tem potencial para a redução, ao longo do tempo, do racismo estrutural presente na sociedade.
“Para combater o racismo, nós precisamos de políticas públicas voltadas para a igualdade racial. Temos políticas repressivas, que consistem em compreender que o racismo não é uma brincadeira pesada, é crime. E como tal, deve ser tratado. E temos ações valorativas, como o que temos na Aesp, que é a formação. Uma aposta na educação”, finaliza.
As formações na Aesp são planejadas pela Academia, com base na matriz curricular regulamentada pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).
A orientadora da Célula de Ensino à Distância (Cedis) da Aesp, Alana Dutra, falou sobre o processo de elaboração dos cursos que são disponibilizados na instituição.
“Quando elaboramos um curso de formação continuada, por exemplo, nos reunimos com a coordenadoria responsável pelo grupo vulnerável em questão para elaborar um material didático. Assim, eles nos indicam os assuntos mais atualizados e termos que não devem mais estar dispostos para esses servidores. Dessa forma, conseguimos especializar melhor o atendimento na rua”, explicou a orientadora.
Ainda conforme Alana Dutra, a discussão sobre igualdade racial está presente em toda a formação dos policiais civis, militares, bombeiros militares e peritos forenses. “Quando os aprovados nos concursos são chamados, têm sua formação inicial aqui na Aesp, onde participam de disciplinas obrigatórias de Direitos Humanos, ética, diversidades culturais e sociais. Ao longo da carreira, eles recebem formações continuadas, seja para ascensão profissional e outras formações que frequentemente divulgamos nos nossos canais de comunicação”, ressaltou ela.
Para o soldado da Polícia Militar do Ceará (PMCE), Diego Souza, na corporação há quatro anos, o trabalho realizado pelos agentes de segurança que passam por formação na Aesp, tem por finalidade, o acolhimento às vítimas de violência. “A abordagem que realizamos é para tentar trazer para essa população, a sensação de dignidade”, afirmou ele. O militar cita ainda a importância do trabalho do Batalhão de Policiamento de Prevenção Especializada (BPEsp). “É um trabalho continuado e integrado, em que são realizadas visitas às vítimas de violência, na tentativa de solucionar o problema’, concluiu Diego
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