Realizado por pesquisadores da Universidade de Fortaleza (Unifor), instituição de ensino da Fundação Edson Queiroz, um estudo que visa descobrir fármacos para a prevenção e/ou tratamento da Covid-19 vai entrar na segunda fase. O avanço da pesquisa será possível graças à implantação do primeiro laboratório de nível de biossegurança NB3 da Unifor e do primeiro NBA3 do Estado do Ceará. O equipamento, que possui nível de biossegurança máximo, será inaugurado dia 27 de janeiro, às 9h.
Com a implantação do biomódulo que abriga os laboratórios NB3 e NBA3, pesquisadores da Universidade poderão desenvolver estudos com agentes de risco nível 3, ou seja, microrganismos de baixo risco para a comunidade, mas de alto risco individual. Um desses agentes é o vírus Sars-Cov-2 (causador da Covid-19), que vem sendo estudado pelos pesquisadores Antonio Neto, pós-doutorando em Ciências Médicas, e Natália Vieira, doutoranda em Biotecnologia (RENORBIO), sob a orientação da professora Cristina Moreira, diretora do Núcleo de Biologia Experimental (Nubex) e colaboração das professoras Adriana Rolim e Danielle Malta (Mestrado em Ciências Médicas).
O estudo está testando o uso de terpenos (substâncias de origem vegetal) para agir diretamente na proteína que encobre o novo coronavírus, interferindo no seu processo de infecção e/ou na sua replicação. Caso seja comprovada a eficácia da ação dessas moléculas, os pesquisadores terão descoberto um fármaco capaz de tratar e/ou prevenir a Covid-19.
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A primeira fase dos ensaios foi realizada in silico, ou seja, por simulação computacional. As moléculas vegetais mais promissoras serão levadas para os testes in vitro e in vivo, que acontecerão no NB3 e NBA3, respectivamente.
“Eles serão complementares na validação da atividade antiviral, proporcionando dados importantes na promoção de estudos clínicos que permitirão a utilização dos terpenos como fitoterápicos adjuvantes [auxiliares] contra infecção causada pela Covid-19, o que pode impactar positivamente nos indicadores de mortalidade do SUS [Sistema Único de Saúde]”, projeta o pesquisador Antonio Neto.
Segundo ele, com o avanço da vacinação, o projeto visa o preenchimento das lacunas científicas sobre possíveis tratamentos. “Espera-se que a complexação [ligação do terpeno na proteína para que ela perca sua função] destas proteínas virais seja capaz de promover atividade anti-covid, já que os terpenos vêm demonstrando potencial para promover alterações na atividade do vírus”, almeja o professor.
A Unifor vai contar com o primeiro laboratório NBA3 do Ceará (Foto: Ares Soares)
A inauguração de laboratórios de nível de biossegurança 3 – NB3 e NBA3 – garante à Universidade de Fortaleza um grande diferencial no ensino de graduação e pós-graduação. De acordo com a diretora do Nubex, professora Cristina Moreira, as pesquisas a serem desenvolvidas no local serão estratégicas para o Estado, para o Brasil e, consequentemente, para a sociedade. “Inicialmente, nós vamos trabalhar no enfrentamento da Covid-19, tanto para entender melhor o novo coronavírus como também para descobrir fármacos que possam ser utilizados no tratamento”, diz a professora.
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Atualmente, o Ceará conta com poucas unidades de NB3: um na Unifor, dois na Universidade Federal do Ceará, um no Laboratório Central (Lacen) do Governo do Estado. Há um em fase de elaboração de projeto na Universidade Estadual do Ceará (Uece). Já do tipo NBA3, o qual permite manejo de animais, o laboratório que está sendo inaugurado na Unifor é o primeiro do Estado.
A estrutura dos laboratórios NB3/NBA3 atende todas as recomendações do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), no que diz respeito ao bem-estar animal, bem como todas as diretrizes da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNbio), no que diz respeito à biossegurança. Ele foi projetado com a mais alta tecnologia de automação para controle e monitoramento, dando total segurança aos usuários, à comunidade e ao ambiente externo.
O laboratório de nível de Biossegurança 3, ou de contenção, destina-se ao trabalho com agentes de risco biológico da classe 3, ou seja, com microrganismos que acarretam elevado risco individual e baixo risco para a comunidade. É aplicável para laboratórios clínicos, de diagnóstico, ensino e pesquisa ou de produção e conta com equipe profissional que tenha passado por treinamento específico no manejo de agentes patogênicos. Esse nível de contenção também requer a intensificação dos programas de boas práticas laboratoriais e de segurança.
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