

Peng informou nas redes sociais que foi forçada a fazer sexo com o ex-premiê. Meia hora depois a publicação foi apagada e ela sumiu | Foto: Reuters/Edgar Su
Uma pergunta que continua sem resposta: onde está a tenista chinesa Peng Shuai, ex-número um do mundo na categoria de duplas? O desaparecimento ocorreu após ela relatar nas redes sociais, neste mês de novembro, que tinha sido vítima de abuso sexual cometido pelo ex-primeiro ministro da China, Zang Gaoli. Na mensagem, Peng informou que foi forçada a fazer sexo com ex-premiê, e que depois eles tiveram uma relação consensual intermitente. A publicação foi apagada meia hora depois.

O email atribuído a Peng diz: “Não estou desaparecida, nem estou em risco. Só tenho descansado em casa e tudo está bem”.
Desde então, a estrela chinesa do tênis não foi vista em público ou emitiu qualquer comunicado, alarmando a comunidade global do tênis. Na quarta-feira (17/11), o chefe da Associação de Tênis Feminino (WTA), Steve Simon, expressou que tinha dúvida a respeito de um email que recebeu, e que também foi divulgado por um veículo da mídia estatal chinesa, no qual a tenista Peng Shuai teria negado as alegações de que sofreu agressão sexual.
“O comunicado divulgado pela mídia estatal chinesa a respeito de Peng Shuai só aumenta minhas preocupações a respeito de sua segurança e seu paradeiro”, disse Simon em um comunicado por escrito. “Tenho dificuldade de acreditar que Peng Shuai realmente escreveu o email que recebemos ou que acredita no que está sendo atribuído a ela.”
A China ainda não comentou a alegação inicial da tenista, e o debate do tópico está bloqueado na internet chinesa, que é altamente censurada. A Associação Chinesa de Tênis não respondeu de imediato a um pedido de comentário.




O comunicado chega no momento em que o país se prepara para sediar a Olimpíada de Inverno de Pequim, em fevereiro, em meio a pedidos de boicote de grupos em reação ao histórico de desrespeito aos direitos humanos da China.
“Minha resposta é muito simples. Esta não é uma questão de política externa, e não estou ciente da situação que você mencionou”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, nesta quinta-feira (18/11) ao ser indagado sobre o paradeiro de Peng e se a China receia que o caso afete sua imagem antes da Olimpíada.
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Sediada no estado norte-americano da Flórida, a Associação de Tênis Feminino (WTA) já havia pedido à China para investigar as alegações de Peng.
A Associação de Tenistas Profissionais (ATP) e atletas de ponta, como Naomi Osaka, Novak Djokovic e Serena Williams, se manifestarem após o desaparecimento de Shuai Peng. “Estou devastada e chocada em ouvir as notícias sobre minha colega Peng Shuai”, disse a norte-americana vencedora de 23 torneios Grand Slam em sua conta no Twitter. “Espero que ela esteja em segurança e que seja encontrada o mais rápido possível”, afirmou Serena.

A também ex-número um do mundo Kim Clijsters, da Bélgica, aplaudiu a WTA, publicando no Twitter nesta quinta-feira (18): “Postura forte da WTA. Todos nós jogadores, homens e mulheres, precisamos estar alinhados aqui. Precisamos saber que ela está em segurança!”.
A Anistia Internacional, principal organização não-governamental do mundo pela defesa dos direitos humanos, também se envolveu na situação e cobra respostas das autoridades chinesas, além de exigir do governo chinês uma prova de vida de Shuai Peng, que garanta que ela está mesmo segura. De acordo com o conteúdo da nota, a ONG pede também que as acusações gravíssimas feitas pela tenista, ex-número 1 do mundo nas duplas, sejam investigadas com seriedade e transparência.
O governo chinês silenciou sistematicamente o movimento #MeToo do país. Dado que também tem uma abordagem de tolerância zero às críticas, é profundamente preocupante que Peng Shuai pareça estar desaparecida após acusar um ex-funcionário do governo de alto escalão de agressão sexual – afirmou Doriane Lau, pesquisadora chinesa da Anistia Internacional.
A suposta declaração recente de Peng de que “está tudo bem” não deve ser tomada ao pé da letra, uma vez que a mídia estatal da China tem um histórico de forçar declarações de indivíduos sob coação ou simplesmente fabricá-las. Essas preocupações não irão embora, a menos que a segurança e o paradeiro de Peng sejam confirmados – apontou.
No comunicado, a Anistia Internacional cita o movimento “Me Too”, que contou com diversas acusações de estupro e assédio sexual, e que vem sendo silenciado pelo governo chinês desde então, principalmente após as declarações de Peng Shuai.
O que está claro é que suas alegações de violência sexual por um político graduado devem ser devidamente investigadas pelas autoridades chinesas. O caso de Peng Shuai destaca o tratamento enfrentado por mulheres sobreviventes de abuso sexual na China, cujas alegações são rotineiramente ignoradas – finalizou.
Com informações da Agência Brasil e agências internacionais
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