Nos últimos dias, tive a oportunidade de viajar pelo interior do Ceará e pude constatar que a vegetação que cobre o nosso solo cristalino, só em receber as primeiras precipitações de nossa estação de chuvas, já se recompõe em sua folhagem.
O que chamamos de inverno neste pedaço do Nordeste é, na verdade, a estação de chuvas de verão de outras regiões. E como é bonito o processo de recomposição da cobertura vegetal do nosso sertão, cuja vegetação é formada por plantas que estão adaptadas a climas desérticos e semiáridos.
O nosso bioma caatinga é exclusivamente brasileiro, compreendendo cerca de 11% do território nacional e 70% da nossa Região Nordeste.
Com grande biodiversidade, a caatinga, concentrada na Região Nordeste, é adaptada à escassez de chuva e como forma de garantir o armazenamento da água, com suas raízes cobrindo o solo, faz cair suas folhas, que retornam, se revigoram e voltam a vicejar logo que chegam as primeiras chuvas. É muito bonito ver como se revestem da folhagem as espécies da nossa flora como o juazeiro, a macambúzia e o ipê-roxo.
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De acordo com os estudos, o nome caatinga é de origem tupi-guarani e significa “mata branca”, termo atribuído ao aspecto esbranquiçado dos troncos de árvore em virtude do clima seco. Mas me permitam a emoção de ver como está ficando a vegetação que cobre cerca de 840 km2 do Nordeste, visto que o bioma caatinga está presente nos estados do Piauí, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Sergipe e Bahia, além de uma parte de Minas Gerais, onde vivem cerca de 30 milhões de pessoas.
Claro que a sobrevivência dessa população, assim como a flora, exige técnicas de convivência com a escassez hídrica. O desafio de sobreviver no sertão, na caatinga, na adversidade climática, sempre exige a demanda por tecnologias como a açudagem e a cisterna para o armazenamento de água da chuva. É assim que se vai servir para o abastecimento humano durante os períodos de estiagem, por exemplo.
Claro que vendo o “milagre” da “ressurreição vegetal” no sertão, na caatinga, meu coração brasileiro pulsa no compasso da reconstrução do mais genuíno sentimento de brasilidade que quer ver a recomposição plena de nossa cena nacional, falando, agora, dos destinos do nosso País.
Tenho certeza de que nos recônditos da alma brasileira, a nossa gente guardou reservas de energia esperando esse momento da restauração. Um sentimento de amor ao nosso País que vai aflorar sempre aos primeiros pingos da participação democrática como resultante do debate que se avizinha, agora, com o calendário eleitoral de 2022. Vivemos tempos difíceis e sombrios, é verdade. Mas nada que nos deva desanimar ou que nos esgote completamente as energias.
Vou aqui buscar inspiração na sabedoria e virtuosidade do nosso irmão nordestino Geraldo Vandré, lá da Paraíba, que ao compor “Arueira” disse:
“Vim de longe, vou mais longe Quem tem fé vai me esperar Escrevendo numa conta Pra junto a gente cobrar No dia que já vem vindo Que esse mundo vai virar … Madeira de dar em doido Vai descer até quebrar É a volta do cipó de arueira No lombo de quem mandou dar”.
Minha genuína esperança brasileira é como a certeza da recomposição vegetal do meu sertão. É bom lembrar que apesar da aridez do solo e do clima com pouca água, a caatinga sempre abriga uma grande biodiversidade, o que pode ser comparado à multiplicidade de matrizes que nos recolocam sentimentos de resistência, de resiliência e, sobretudo, de disposição para a luta, na defesa de valores democráticos que buscam defender os elevados interesses da ampla maioria da nossa gente.
A eleição de 2022 está bem aí e a trilha sonora combina, por excelência, com a canção do Vandré:
“Vim de longe, vou mais longe Quem tem fé vai me esperar Escrevendo numa conta Pra junto a gente cobrar”!!!!
Roberto Claudio Rodrigues Bezerra foi por duas vezes (2013 a 2020) prefeito de Fortaleza (CE), cidade na qual é o presidente do Diretório Municipal do PDT. É médico sanitarista, com PhD em Saúde Pública pela Universidade do Arizona.
Conteúdo original publicado no site Congresso em Foco
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