Reportagem atualizada às 20h38
O professor Doutor em Geomorfologia, Titular do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Wagner Castro, disse em entrevista ao Portal Terra da Luz que o acidente envolvendo 4 lanchas usadas em passeios turísticos e que foram atingidas por um grande bloco de rocha, neste sábado (08/01), trata-se de uma tragédia anunciada.
“É mais uma tragédia anunciada no Brasil porque parte da área da represa formada por cânions da região de Capitólio (MG), é considerada de alto risco geológico! As rochas de padrão íngreme são muito fraturadas. As chuvas torrenciais na região elevaram em muito a pressão hidrostática sobre o maciço rochoso, provocando o desabamento do bloco, gerando assim, a tragédia. Eu acredito também que durante a construção da represa artificial possa ter ocorrido o uso de explosivos. Então essa combinação de padrão de fraturamento regional de rocha exposta somada a muita chuva muito, que chegou a causar uma tromba d’água, favoreceu a queda do bloco e, consequentemente, essa tragédia sobre o turismo da região de Capitólio”, afirma o especialista.
A tromba d’água pode ser vista num dos vídeos feitos por turistas (veja vídeo abaixo) que estavam no local do desastre. Nos vídeos que passaram a circular nas redes sociais é possível ver três lanchas próximas ao local em que o grande bloco de pedra desaba.
Além da tromba d’água, as imagens mostram o começo do desmoronamento das pedras, que se desprendem de um imenso paredão. Os turistas tentam, em vão, alertar os ocupantes dos barcos atingidos. As cenas dos vídeos são desesperadoras. Confira!
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Segundo o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais sete mortes foram confirmadas e há quatro desaparecidos. Durante o sábado, outras 23 foram medicadas na Santa Casa de Capitólio e liberadas. Nove permaneceram internadas.
As buscas estão a cargo de equipes da Marinha e do Corpo de Bombeiros, com reforço do Batalhão de Operações Aéreas, que teve muitas dificuldades para operar por causa do mau tempo, e mergulhadores.
Segundo o Corpo de Bombeiros, cada lancha de passeio usada no Lago de Furnas tem capacidade para transportar 12 pessoas. A informação preliminar é que, no momento do acidente, havia por volta de setenta pessoas fazendo turismo na região.
O porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, tenente Pedro Aihara, explica que há riscos de novos desabamentos, já que há rochas sedimentares na região. “É possível que haja novos acidentes, porque a água das chuvas penetra nas rochas, que têm menor resistência à ação da água e de vento”.
Segundo o professor Wagner Castro, devido à formação geológica das rochas que formam os cânions do Lago de Furnas, seria necessário interditar alguns trechos usados hoje nos passeios, para evitar a aproximação dos turistas aos locais de maior risco. Nos períodos de chuva, principalmente de chuva intensa como as que têm ocorrido nos últimos dias, as lanchas sequer deveriam sair dos pontos de embarque.
“Durante o período de chuva, essa região deveria ser quase toda interditada, principalmente nas regiões, onde ocorre esses paredões muito íngremes, essas escarpas quartzídicas, porque elas são muito fraturadas e é claro que, se você tem uma percolação d’água a montante nas vias de drenagem superficiais, essas áreas se tornam de altíssimo risco geológico, então, durante o período de chuva e até mesmo sem ser em período de chuva, muito dessas regiões devem ser interditadas por causa do risco de acidentes”, afirma o Doutor Wagner Castro.
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Muito procurada por turistas, a região de Capitólio tem cânions naturais, águas boas para navegação e diversão aquática. Além disso, a região é próxima de áreas urbanas, onde há estrutura de hotéis, pousadas e casas de veraneio para atender a demanda dos visitantes.
A recomendação do tenente é que, num momento de fortes chuvas, as pessoas mantenham distância segura de estruturas rochosas. “Essa recomendação pode ser reavaliada após análise dos bombeiros”, diz.
Wagner Castro é pesquisador do CNPq (1D). Professor Titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Coordenador do Laboratório de Geologia Costeira, Sedimentologia & Meio Ambiente do Departamento de Geologia & Paleontologia do Museu Nacional – UFRJ; Professor do Departamento de Geologia – IGEO/ UFRJ. Doutor em Geomorfologia (Geociências – Conceito CAPES 7) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001). Mestre em Sedimentologia – Geologia pela Universidade Federal de Pernambuco (1995); Especialista em Avaliação de Impacto Ambiental – COPPE/UFRJ (1987) e Educação Ambiental – UNB (1986). Autor de livros e de diversos trabalhos em revistas cientificas internacionais e nacionais. Desenvolve projetos de pesquisas nas áreas de variações do nível relativo do mar e dinâmica costeira em cooperação com a Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique) e a Universidade Nelson Mandela (África do Sul). Suas principais áreas de interesse e atuação são: Estudos dos processos eólicos em dunas costeiras; Estudo das variações do nível do mar durante o Holoceno; Erosão costeira; Mudanças globais e impactos ambientais; Transporte de sedimentos em praias e áreas portuárias; Sedimentação carbonática holocênica e ambientes análogos; Contaminação de praias por derivados de petróleo; e Estudos, perícia e avaliação de impactos ambientais em terrenos sedimentares. Leciona as disciplinas de Geologia Marinha, Geologia Costeira, Sedimentologia e Geologia Ambiental nos cursos de graduação e pós-graduação em geologia e geociências da UFRJ. Sócio da International Associacion Sedimentologist – IAS, da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário – ABEQUA e da Sociedade Brasileira de Geologia – SBGeo. Ex Vice Presidente da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário – ABEQUA.
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