Criado com o objetivo de diminuir os impactos financeiros nas famílias após a pandemia do Covid-19 e hoje estabelecido como política pública do Governo do Estado, o Ceará Credi deu início à concessão dos primeiros empréstimos e já gera expectativas positivas nas alternativas econômicas para os municípios cearenses.
A necessidade de reinvenção e a coragem para abrir um novo negócio foram alguns dos sentimentos despertados aos atingidos economicamente pela pandemia. É o caso de Daiane Débora Gonçalves, de 30 anos. Formada em administração de empresas, foi no curso de estética que a moradora de Itapipoca se encontrou e trabalha há oito anos, hoje como autônoma.
“Tive algumas oportunidades de montar um negócio, mas tinha medo de fazer empréstimos devido às taxas altas de juros. Aí veio a pandemia e fiquei um tempo parada. Foi quando vi a proposta do Ceará Credi para colocar meu próprio negócio. Vou me reinventar para dar certo”, afirma a profissional, que obteve R$ 3.500 aprovados pelo programa para investir em cadeiras, espelho e produtos de qualidade. De acordo com ela, a oportunidade é vista como um pontapé inicial para a abertura do próprio negócio.
Outras 351 pessoas do município de Itapipoca foram cadastradas no programa Ceará Credi. O número é composto por 48% de mulheres, 45% de homens e 6,5% não identificaram o gênero. Do total, 82% são informais e 18% microempreendedores individuais (MEI). Com PIB per capita de R$ 12,8 mil, Itapipoca tem média salarial mensal de R$ 1,5 mil dos trabalhadores formais. O setor de serviços é considerado a maior parte da atividade local, com 43% da parcela total. Neste cenário, uma das alternativas de trabalho e renda são os pequenos negócios, destacando-se a importância do acesso ao crédito por parte de empreendedores dos diversos ramos de atividade.
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Com PIB per capita de R$ 8,1 mil, Canindé tem média salarial mensal de R$ 1,8 mil dos trabalhadores formais. A cidade conta com 915 inscritos no Ceará Credi, sendo 59% por mulheres, 40% homens e 1% não marcou a opção. Do total, 80% são informais e 20% microempreendedores individuais.
A confeiteira Maria Rosimere, moradora de Canindé, foi outra prejudicada nos primeiros meses da pandemia ao deixar de receber encomendas. Depois de ver a renda familiar despencar, foi no Ceará Credi que a profissional do ramo de bolos e doces encontrou a solução para alavancar o negócio.
“Uma amiga me falou sobre o programa. A questão dos juros diferenciados me chamou atenção por não precisar pagar uma parcela alta. É um programa muito bom e vai ajudar muitas famílias necessitadas”, afirma. Com crédito de R$ 3,6 mil aprovado, a doceira de 36 anos vai investir em um forno industrial e uma panela automática de mexer recheios.
(Foto: divulgação)
Conforme a diretora de Economia Popular e Solidária da Adece, Silvana Parente, os estudos existentes sobre impactos dos programas de microcrédito, embora pontuais, mostram que, no primeiro momento, aumentam a renda do negócio e da família, bem como o nível de consumo familiar e da qualidade de vida de quem já tem um pequeno negócio.
“Em um segundo momento, há o impacto no nível de ocupação, com aumento de horas trabalhadas e de mais pessoas trabalhando nos empreendimentos. Quanto maior o número de pessoas que têm acesso ao crédito, maior o impacto em nível da comunidade e do munícipio, devido ao efeito multiplicador do aumento do consumo e do investimento. No caso do Ceará Credi, vamos impactar também na inclusão produtiva e financeira de desempregados e mulheres e jovens que, terão a oportunidade de abrir um novo negócio. Outro impacto importante é no aumento da autoestima, confiança e solidariedade entre os empreendedores. No caso das mulheres, ainda temos relatos de impacto no empoderamento feminino e melhoria das relações familiares. Por fim, a capacitação dos beneficiários também gera um importante impacto na melhoria de gestão dos pequenos negócios, potencializando o efeito econômico e a sustentabilidade dos empreendimentos”, avalia Silvana Parente.
O presidente da Adece, Francisco Rabelo, reforça que o Ceará Credi é um programa de inserção financeira, social e de capacitação. “Tem todo um arranjo diferenciado e foge da lógica dos créditos tradicionais, tendo em vista que o programa foca naqueles que mais precisam e vai em cima das características do Estado, que reforça o atendimento diferenciado para as pessoas com dificuldades de acesso ao crédito. É uma maneira de dar mais equidade à sociedade”, explica.
A ajuda vai para além dos cursos gratuitos ofertados, mas também por meio do próprio agente de crédito. É o que afirma Daiane. “Os cursos são muitos bons e me ajudaram muito principalmente na parte de finanças, separando o financeiro pessoal do da empresa. São bem informativos e completos. Minha agente também me auxilia muito. Quando estou em dúvida, procuro por ela”, relata.
Os interessados em cadastrar-se no Ceará Credi devem inscrever-se no site do programa. Os cadastros serão submetidos a aprovação prévia dos dados e, em seguida, os agentes de crédito entram em contato para um levantamento e análise da proposta. Uma vez aprovada, o contrato é assinado, também de forma presencial ou virtual e a liberação se dá pelo Aplicativo Financeiro do Instituto E-Dinheiro, parceiro na tecnologia financeira do Ceará Credi.
Empreendedores interessados em abrir um novo negócio devem realizar dois cursos obrigatórios e gratuitos disponibilizados na Plataforma Ceará Credi. Somente após esse passo entrarão na esteira do atendimento pelos agentes de crédito designados para cada contrato.
Atualmente, o programa está na fase de atendimento aos grupos prioritários, compostos por mulheres vítimas de violência, pessoas com deficiência, egressos do sistema prisional e mulheres chefes de família, que sejam empreendedoras informais e que possuam um negócio e desejam fortalecê-lo. Na sequência serão atendidos todos os clientes cadastrados na base.
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