A Real Academia de Ciências da Suécia encerrou as condecorações do Prêmio Nobel, nesta segunda-feira (11/10), com o anúncio dos vencedores da categoria Economia para três pesquisadores que calculam os impactos no mundo de situações da vida real, como os efeitos do salário mínimo, imigração e da educação no mercado de trabalho. Os economistas David Card, Joshua Angrist e Guido Imbens são os pioneiros em verificar os “experimentos naturais” para mostrar os impactos econômicos do mundo real em áreas do setor de fast-food dos EUA à migração da Cuba da era Castro.
“A pesquisa deles melhorou substancialmente nossa capacidade de responder às principais questões causais, o que foi de grande benefício para a sociedade”, disse Peter Fredriksson, presidente do Comitê do Prêmio de Ciências Econômicas.
Os prêmios Nobel de Economia anteriores foram dominados por instituições dos EUA e esse prêmio não foi uma exceção. Nascido no Canadá, Card atualmente trabalha na Universidade da Califórnia, Berkeley; Angrist, atua no Massachusetts Institute of Technology (MIT); e Imbens, nascido na Holanda, é pesquisador da Universidade de Stanford.
O prêmio é de 10 milhões de coroas suecas (R$ 6,32 milhões). David Card receberá a metade e a outra metade será dividida entre Joshua Angrist e Guido Imbens.
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Um experimento de Card sobre o impacto no setor de fast-food de um aumento do salário mínimo no estado de Nova Jersey, nos EUA, no início da década de 1990, levou a uma revisão da ideia convencional de que tais aumentos sempre deveriam levar a quedas nas taxas de emprego.
“Agora sabemos que a renda das pessoas que nasceram em um país pode se beneficiar de uma nova imigração, enquanto as pessoas que migraram anteriormente correm o risco de ser afetadas negativamente. Também percebemos que os recursos nas escolas são muito mais importantes para o sucesso futuro dos alunos no mercado de trabalho do que se pensava anteriormente”, diz nota publicada no site do prêmio Nobel
“Os estudos de Card sobre questões centrais para a sociedade e as contribuições metodológicas de Angrist e Imbens mostraram que experimentos naturais são uma rica fonte de conhecimento. A pesquisa deles melhorou substancialmente nossa capacidade de responder às principais questões causais, o que foi de grande benefício para a sociedade ”, disse Peter Fredriksson, presidente do Comitê do Prêmio de Ciências Econômicas.
“Fiquei absolutamente chocado ao receber a ligação, então fiquei absolutamente empolgado ao ouvir a notícia”, disse Imbens em um telefonema com repórteres em Estocolmo, acrescentando estar emocionado de compartilhar o prêmio com dois de seus bons amigos. Angrist foi padrinho de seu casamento.
Os economistas David Card, Joshua Angrist e Guido Imbens se somaram as 947 pessoas e 28 organizações laureadas desde 1901, quando o prêmio foi instituído, por inspiração do químico e inventor sueco, Alfred Bernhard Nobel (1833-1896).
Também empresário, Nobel ficou milionário ao desenvolver uma forma de ampliar a produção de nitroglicerina, inventar a dinamite e criar um detonador que tornou mais seguro o uso de explosivos em várias atividades.
Um ano antes de morrer, o inventor determinou, em testamento, que, após seu falecimento, a maior parte de sua fortuna fosse destinada a uma fundação que levaria seu nome e ficaria encarregada de premiar, anualmente, “a quem tiver feito a descoberta mais importante” nos campos da Física, Química, Medicina, Literatura e para promover a paz.
Inspirado na iniciativa de Nobel, o banco central da Suécia criou, em 1968, o chamado Prêmio Sveriges Riksbank em Ciências Econômicas, que passou a ser chamado de o prêmio Nobel de Economia – ainda que, originalmente, o inventor sueco não o tenha previsto.
Não só porque a categoria Ciências Econômicas foi instituída 67 anos após as primeiras, mas também porque houve anos em que a Fundação Nobel não concedeu o prêmio em um ou mais campos, o total de láureas já entregues a cada área difere. Assim como o número de premiados, já que é comum que duas ou mais pessoas dividam o prêmio em uma mesma área do saber.
Dos 609 Nobéis distribuídos até hoje, 115 reconhecem a importância de descobertas e invenções no campo da Física e 114 distinguem as contribuições mais relevantes à Literatura. As condecorações foram entregues 113 vezes para estudos e invenções ligadas à Química e 112 para a Medicina. A Fundação Nobel também já distribuiu 103 prêmios da Paz, enquanto o Nobel da Economia (o único distribuído ininterruptamente) foi concedido em 53 ocasiões.
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No total, 947 pessoas e 28 organizações receberam o Prêmio Nobel entre 1901 e 2021. Destas, apenas 58 são mulheres.
Por outro lado, desde 2014, cabe a uma mulher, a paquistanesa Malala Yousafzai, o título de pessoa mais jovem a receber o prêmio: por seu ativismo em prol do acesso de crianças e mulheres à educação, Malala também recebeu o Nobel da Paz quando tinha apenas 17 anos de idade. Além disso, a cientista polonesa Marie Curie é uma das quatro únicas pessoas que conseguiram o feito de serem laureadas duas vezes – com o detalhe de que Marie Curie obteve dois Nobéis em áreas diferentes: Física, em 1903, e Química, em 1911, feito só alcançado pelo químico Linus Pauling (vencedor em Química, em 1954, e da Paz, em 1962). A família Curie ainda faturou outros dois prêmios: em 1903, o prêmio de Física também foi concedido ao marido de Marie, Pierre Curie. E , em 1935, foi a vez da filha do casal, Iréne Joliot-Curie ser escolhida uma das vencedoras em Química.
Entre os 13 ganhadores deste ano, há apenas uma mulher, a jornalista filipina Maria Ressa, que dividiu com o também jornalista russo Dmitry Muratov o Prêmio Nobel da Paz. A título de comparação, no ano passado, quatro dos 11 premiados eram mulheres. Em 2009, ano com o maior número de ganhadoras, cinco pesquisadoras foram agraciadas.
Este ano, além de Ressa, Muratov e dos economistas David Card, Joshua Angrist e Guido Imbens, também foram agraciados o escritor Abdulrazak Gurnah, da Tanzânia, que recebeu o Nobel de Literatura; os neurocientistas norte-americanos David Julius e Ardem Patapoutian, laureados com o Nobel de Medicina, e os pesquisadores Benjamin List, que é alemão, e David MacMillan, norte-americano, em Química. Já o prêmio de Física foi concedido ao norte-americano nascido no Japão Syukuro Manabe, ao alemão Klaus Hasselmann e ao italiano Giorgio Parisi.
Os ganhadores de cada categoria dividem, entre si, um prêmio de 10 milhões de coroas suecas, ou cerca de R$ 6,3 milhões, além de uma medalha e um diploma. Ao longo do tempo, só duas pessoas recusaram a distinção voluntariamente: o filósofo e escritor francês Jean-Paul Sartre, que, em 1964, se negou a receber o prêmio de Literatura, e o político vietnamita Le Duc Tho, um dos fundadores do Partido Comunista da antiga Indochina e que, em 1973, receberia o Nobel da Paz por, junto com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Henry Kissinger, ter negociado o acordo de paz que selou o fim da guerra do Vietnã.
Além destas duas ocasiões, quatro vencedores foram forçados a recusar o prêmio . No fim da década de 1930, o ditador Adolf Hitler proibiu três cientistas alemães (Richard Kuhn e Adolf Butenandt, em Química, e Gerhard Domagk, em Medicina) de aceitarem o prêmio – os três receberam suas medalhas e diplomas posteriormente, mas já não puderam receber a premiação em dinheiro. Em 1958, foi a vez das autoridades da extinta União Soviética coagirem o ganhador do Nobel de Literatura de 1958, Boris Pasternak, a não aceitar o reconhecimento a sua obra.
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Apesar de, oficialmente, nenhum brasileiro jamais ter ganhado a maior honraria científica, literária e cultural mundial, há, entre os 975 premiados, uma pessoa que nasceu em solo brasileiro.
Filho de pai libanês e de mãe inglesa, o ganhador do Nobel de Medicina de 1960, o biólogo Peter Brian Medawar, nasceu em Petrópolis (RJ), em 1915. Sócio de um então importante fabricante de instrumentos odontológicos e ópticos, o pai de Medawar e a família mudaram-se para o Brasil a fim de inaugurar uma revendedora no país, a Óptica Inglesa.
Com dupla cidadania, o futuro cientista cresceu entre a capital fluminense e Petrópolis até que, na adolescência, seus pais o enviaram para estudar na Inglaterra. Aluno aplicado, Medawar logo recebeu uma bolsa de estudos do governo britânico.
Segundo a versão mais conhecida, foi para que Medawar não perdesse a chance de prosseguir com os estudos que sua família recorreu à influência do ex-ministro da Aeronáutica e ex-senador, Salgado Filho. Padrinho do futuro vencedor do Nobel, Filho pediu diretamente ao então ministro da Guerra, o futuro presidente Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), que ajudasse o rapaz a ser dispensado de retornar ao Brasil para cumprir o serviço militar obrigatório.
Como o pedido não foi atendido e Medawar não retornou para se alistar, acabou perdendo sua nacionalidade brasileira, tornando-se unicamente cidadão inglês e graduando-se pela prestigiada Universidade de Oxford.
Medawar morreu em Londres, em 1987 – vinte e sete anos após ser mundialmente reconhecido por seus estudos a respeito da tolerância imunológica e o transplante de órgãos.
Com informações da Agência Brasil
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