Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) revelou a origem das “caixas de borracha” que apareceram em praias do litoral do Nordeste, nos Estados de Alagoas, Sergipe e Bahia, em agosto deste ano de 2020. O material estaria no porão do navio nazista MV Weserland, afundado há 77 anos, durante a 2ª Guerra Mundial.
Inicialmente, os pesquisados do Laboratório de Ciências do Mar (Labomar), que concentrou as investigações em Fortaleza, imaginaram que os “fardos” seriam do navio SS Rio Grande, naufragado pela marinha americana na costa do Brasil, em janeiro de 1944. Aliás, estudos revelaram que parte do material encontrado era mesmo do SS Rio Grande. Mas esse material foi o que apareceu em praias do litoral nordestino, inclusive no Ceará, em 2018.
Duas informações importantes levaram os pesquisadores a aprofundar as investigações, que apontaram para o segundo navio afundado na costa brasileira na Segunda Guerra Mundial, no caso, o MV Weserland. Segundo o oceanógrafo do Labomar, Carlos Teixeira, o volume muito grande de fardos encontrados no litoral – foram mais de 200 relatos, em 2018 – e o fato que alguns deles tinham inscrições gravadas em ideograma japonês, o kanji (o que não tinha sido visto até então).
“Como chegaram muitos fardos e o pessoal da Ufal tirou fotos que mostravam escritas em japonês, a gente conseguiu chegar a um segundo navio”, explicou o oceanógrafo.
Inscrições em ideograma japonês, o kanji | Foto: Claudio Sampaio
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Os pesquisadores, então, localizaram registros informando que o navio alemão MV Weserland havia saído do Japão em direção à Europa carregado de fardos de borracha e uma carga de estanho (um tipo de metal). O navio foi naufragado pelo destróier USS Sommers, da Marinha americana, em janeiro de 1944, poucos dias após o navio SS Rio Grande ter tido o mesmo destino: o fundo do Oceano Atlântico
Navio MV Weserland | Foto: Labomar
A embarcação tinha as mesmas características do primeiro navio nazista. Ela também carregava uma carga de fardos de borracha que seriam usados no esforço de guerra alemão, além de metais nobres: o cobalto, no caso do SS Rio Grande, e o estanho, no caso do MV Weserland.
Aliás, uma alteração no preço do estanho no mercado internacional levantou a suspeita de que piratas podem ter mexido no naufrágio do navio alemão. No primeiro semestre de 2021, o preço do metal teve um um aumento de quase três vezes quando comparado aos preços praticados em 2020. Os piratas teriam ido buscar a carga para vender o metal com o melhor preço dos últimos anos, fato que foi confirmado pelo pesquisador britânico que atua nessa área, David Mearns, em contato com os pesquisadores do Labomar.
Com as informações sobre o local do naufrágio, os pesquisadores fizeram modelos matemáticos levando em consideração as correntes marinhas. Os estudos mostraram que, se os fardos saíssem do local do naufrágio, eles iriam direto para a costa dos estados da Bahia, Sergipe e Alagoas e, assim, a hipótese de que os fardos de borracha que surgiram no litoral nordestino neste ano de 2021 são mesmo do MV Weserland, o navio nazista da Alemanha afundado há 77 anos.
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