Você já tentou encontrar o Wally? Encontrar o Wally é uma brincadeira, baseada em uma figura, cujo desafio é identificar algo diferente no meio de tantos iguais.
Há muito tempo se sabe que a educação é o principal mecanismo de transformação das pessoas e isso é pauta de programas políticos de governos ao redor do mundo. No âmbito social, há muitas discussões sobre a importância da educação, da necessidade de melhorar a aprendizagem, equilibrar os poderes, para construção de uma sociedade mais justa e com oportunidades para todos. A realidade comprovada por muitas pesquisas é de que a educação transforma a vida das pessoas para melhor.
Contudo, quando olhamos o caminho trilhado nos últimos anos, temos a sensação de que, concretamente, foi feito muito pouco nesse sentido. Os dados publicados no âmbito nacional e internacional sobre a educação brasileira confirmam essa má notícia.
O baixo nível educacional é um problema antigo que assola a nossa sociedade e favorece ainda mais as desigualdades! É preciso mudar isso. Parafraseando a brincadeira do Wally, precisamos encontrá-lo e dar a ele um tratamento adequado. De início, nos parece que ele, o Wally, aqui caracterizado como o problema a ser resolvido, na verdade, não se apresenta de forma isolada e sim faz parte de um conjunto de problemas complexos. Sendo assim, a pergunta passa a ser: o que e como nós professores e gestores educacionais podemos fazer para melhorar essa situação após “encontrar o Wally”?
Com o propósito de contribuir, e de uma forma bastante objetiva, compartilhamos algumas dicas que acreditamos ser úteis.
1º) Faça um bom diagnóstico da situação, entenda o contexto externo e quais são os pontos fortes e fracos do seu processo.
2º) Defina, formalize e compartilhe com sua equipe quais são seus objetivos e metas.
3º) Elabore os planos para as ações que serão implementadas com o propósito de mudar o cenário. Não se esqueça de que os plano de ação devem ser claros no sentido de ter um escopo bem definido, prazos formalizados e conhecidos por todos, custos bem dimensionados, expectativas das partes interessadas bem alinhadas, identificação clara das responsabilidades, entre outros.
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Os planos ou projetos que irão dar concretude às mudanças poderão ser agrupados por similaridade de objetivos, tornando-se programas e gerenciados como tais.
Como bem sabem os nossos alunos, as mudanças estruturais necessitam de apoio institucional. Nesse sentido, a direção deve criar um clima favorável e fomentar ações. No que tange às ações operacionais, os coordenadores, professores, técnicos administrativos e alunos devem estar engajados com os planos de ação propostos para fazer as mudanças desejadas.
Outro aspecto que também deve ser considerado é o nível de complexidade dos planos a serem implantados. Eles podem ser classificados como de alta, média e baixa complexidade e isso interferirá no nível de detalhe daquilo que deverá ser mobilizado e gerenciado.
Mas, para se aproximar do Wally, temos de olhar para o processo de ensino-aprendizagem e como ele está ocorrendo. Ademais, os promotores desse processo não devem esquecer porque estão ali e quais são as competências que eles devem desenvolver nos alunos.
Apesar de parecer fácil, os caminhos que levam ao desenvolvimento das competências pretendidas não são simples e, por causa disso, devemos ficar alerta. Em qualquer fase do percurso, não se deve esquecer que o foco é a aprendizagem do aluno, e isso implicará na aquisição e ou desenvolvimento de conhecimentos, habilidades, atitudes e sentimentos afetivos e emocionais.
Então, o processo de aprendizagem deve ser planejado de uma forma que os partícipes conheçam o percurso e saibam lidar com os recursos que terão à disposição. Por isso, é imprescindível que tais informações de forma explicita e implícita abarquem:
a) Quais são competências que o egresso do curso deverá desenvolver.
b) Quais são os conhecimentos, habilidades, atitudes e aspectos afetivo-emocionais componentes dessas competências deverão ser considerados, compartilhados, praticados e avaliados.
c) Considerando os recursos humanos e materiais disponíveis, quais são as dinâmicas de aula que apresentarão melhor performance para aquela turma, no desenvolvimento de competências específicas.
d) A avaliação e o feedback devem ser planejados de modo a esclarecer o que, quando, como e o propósito que seu acontecimento.
e) Além da avaliação individual dos alunos, professores, gestores, técnicos administrativos e outros aspectos institucionais também devem ser avaliados, com o propósito de se entender o que pode ser melhorado para que o resultado final, a formação profissional do egresso, seja o foco de um ciclo virtuoso em busca da melhoria contínua.
É importante registrar que todas as pessoas que fazem parte do cotidiano de uma escola são importantes. Entretanto, entendemos que o principal agente do processo de aprendizagem é o aluno e na sequência o professor. Dessa forma, sugerimos algumas ações que podem ajudar o professor a “encontrar o Wally”.
Todos os professores fazem o planejamento das suas aulas e grande parte o prepara com base na ementa da disciplina, que é oriunda do projeto pedagógico do curso. Ademais, geralmente, essa ementa traz uma lista de conteúdos a serem apresentados e discutidos, os quais são alocados na agenda semestral ou anual do curso. Entretanto, será que ao final da disciplina os alunos de fato aprenderam, ou melhor, essa disciplina contribuiu para o desenvolvimento de alguma das competências profissionais pretendidas?
O planejamento de um curso ou disciplina é mais do que uma lista de assuntos, por isso vamos elencar a seguir algumas ações que podem contribuir para que os planos de ensino estejam mais alinhados ao propósito do curso e, consequentemente, com o perfil do egresso.
Entendemos que o planejamento oportuniza diversas outras informações relevantes, como: objetivos, habilidades, competências, conteúdos, metodologias de aprendizagem e critérios de avaliação, bibliografias, entre outros. Contudo, ressaltamos que:
1) É necessário que os professores e gestores educacionais estejam alinhados quanto aos objetivos propostos nos Projetos Pedagógicos do Curso-PPC, incluindo, principalmente, o conhecimento claro acerca do perfil do egresso daquele curso e as competências que o compõem.
2) A instituição deverá fomentar capacitações que viabilizem esse alinhamento de propósitos e de conhecimentos sobre planejamento do processo de ensino-aprendizagem.
3) A participação dos professores nos programas de capacitação docente deve ser incentivada e eles devem entender a importância de sua participação, da troca de experiencias com os colegas e de como tais eventos estão alinhados aos projetos da escola.
4) É preciso conhecer. O ensino por competências é relativamente novo no ensino superior e por causa disso há competências relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem que precisam ser desenvolvidas e compartilhadas com os professores.
5) É fundamental que o plano de ensino seja compartilhado com os alunos e que eles possam ajudar no processo de implementação dele. Devemos oportunizar o envolvimento dos discentes com o plano de ensino e, de certa forma, “validá-lo” com eles.
6) Existem muitas informações e ações que são importantes e que podem ser realizadas pelo pessoal de apoio. Ter um sistema de informação eficiente ajudará os professores e gestores educacionais a construírem um processo de comunicação e feedback eficiente e eficaz e isso trará contribuições significativas.
Mais uma vez concluímos que a aprendizagem é complexa, requer envolvimento da comunidade acadêmica e que nós temos condições plenas de nos alinharmos para potencializar nossos recursos no sentido do propósito maior, “ter egressos competentes no perfil desejado” e, dessa forma, cumprir nossa missão como educadores e colaborar para que a nossa escola cumpra a sua missão institucional. No final deste percurso, muito provavelmente, encontraremos o Wally e teremos um bom relacionamento com ele.
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Luciana Barragan: é doutoranda em Educação, Mestre em Controladoria e Contabilidade Estratégica pela FECAP; Graduada em Administração de Empresas e Ciências Contábeis. Consultora especialista em Gestão de Riscos, Controles Internos e Implantação de Processos da Consultoria PFM; Professora de curso de graduação na área Contábil e Coordenadora de cursos de pós-graduação na FECAP. Atuou como membro independente de Comitê de Auditoria e Gerente de contabilidade em empresa de consultoria contábil.
Wanderley Carneiro: Doutor em Educação pela PUC – SP (2016). PhD em Administração pela FCU- EUA (2005). Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Viçosa (1990) e também bacharel em Administração pela UFRRJ (2009). Possui Pós-Graduação nas áreas de Gestão de Projetos-USP (2000), Administração Rural-UFLA (2000) e Informática em Educação-UFLA (2003). Professor de ensino superior desde 1999 e na FECAP desde 2004. Foi professor nos programas de MBA da FGV no período de 2006 a 2015. Trabalhou na área de produção da empresa Nestlé na área de projetos agroindustriais (1990-2000). Atua na gestão do ensino superior desde 2007 e como Pró-Reitor de Extensão e Desenvolvimento no Centro Universitário FECAP desde 2009, onde também leciona Gestão de Projetos. É membro do Comitê Científico da ABED – Associação Brasileira de Educação Científica e Faz parte do Conselho Consultivo do Observatório Social de São Paulo. Coordena o Programa de Qualificação Docente da FECAP. Desenvolve pesquisas nas áreas de Educação e de Gestão de Projetos. É membro do Banco de Avaliadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (BASis), MEC.